Tag: Consciência

Guerra Silenciosa

A sobrevivência em tempos anormais se dá de duas maneiras: pela completa alienação ou pela plena consciência.

Eu jamais poderia aconselhar alguém a alienar-se dos problemas e questões mundanas, porque isso seria um contrassenso. A alienação é um tipo de ignorância e, a partir do momento que a pessoa tenta se alienar, ela automaticamente, pela consciência do problema, não conseguiria.

Resta, então, para aqueles que não pretendem viver na ignorância, tomar plena consciência da situação que estão e, a partir disso, traçar as estratégias que pretendem seguir para sua sobrevivência.

O primeiro fato que se deve tomar consciência é de que os tempos atuais não são normais. Não estamos (ainda) sob uma ditadura total, mas em um processo que tenta implantá-la. Este processo acontece em meio a uma guerra silenciosa entre os poderes do Estado. Uma guerra que envolve interesses, projetos e ameaças veladas entre as forças institucionais e que, sendo uma guerra, não temos como prever seu desenlace.

O que me interessa, primordialmente, é que nós, pessoas comuns, estamos em meio a esta guerra, sob esse fogo cruzado, que por enquanto é apenas retórico e de ações institucionais. No entanto, não podemos dizer quais serão os próximos andamentos e como isso nos afetará mais diretamente.

A guerra contemporânea é, antes de tudo, psicológica e os soldados dela, sem saber, muitas vezes somos nós. Mas, sendo psicológica, atuamos nessa guerra inconscientemente e acabamos agindo não necessariamente para atingir os nossos interesses, mas daqueles que nos manipulam.

Por isso, ter consciência dessa realidade é o que nos permitirá agir com sabedoria, orientando-nos em nossos atos e palavras, norteando-nos em nossos passos e ensinando-nos sobre o momento de agir e de esperar, de falar e de calar, de ser claro ou obscuro, de ser direto ou estratégico. Tudo para que não nos tornemos nem instrumentos nem alvos.

O filme Replicas e a localização da consciência

O filme “Replicas” (Cópias – de volta à vida) parte de um pressuposto do qual eu não comungo, mas que está de acordo com o entendimento da quase totalidade dos cientistas e neurobiólogos do mundo inteiro: a de que nossa consciência reside em nosso cérebro.

O roteiro trata de um cientista que trabalha em um projeto de transplante de consciência. A ideia é conseguir com que todos os dados, incluindo a memória, as sensações e a autoconsciência, sejam possíveis de ser transmitidos de um cérebro orgânico a um outro sintético. Pega-se uma pessoa recém-falecida, sem avarias cerebrais, e “ressuscita-a” em um outro cérebro, sob um outro corpo, criando assim uma réplica autoconsciente.

A premissa subjacente do motivo do filme é a de que a nossa consciência está limitada ao nosso cérebro. Portanto, se houver um desenvolvimento de uma tecnologia capaz de transferir os dados de um cérebro para o outro, isso permitiria que a vida das pessoas fossem continuadas, ainda que em cérebros e corpos diferentes*.

Sinceramente, eu não acredito nisso. Penso que temos uma consciência que está fora e além do corpo; que até depende do corpo para se manifestar nesta vida, mas que supera em muito nossa biologia.

Alguns estudiosos, como o dr. Larry Dossey, chamariam isso de Mente Una, outros de consciência coletiva. Eu não sei se eu iria tão longe, mesmo não descartando completamente a hipótese de uma participação em algo que esteja além do indivíduo

Eu apenas penso que nossa mente não está confinada no cérebro e que existe além dele, talvez anterior a ele, e que sobreviverá a ele de qualquer maneira.

Por causa disso, eu entendo que o cérebro atua mais como um instrumento, um órgão executor da consciência, que auxilia a consciência para que ela se manifeste nesse mundo, mas que, exatamente por isso, se torna um limitador dela.

Diferente da percepção comum, apesar de entender a importância do cérebro para a ordenação dos dados tratados pela consciência, penso que ele acaba restringindo-a, como um canal apertado por onde ela precisa passar.

Por isso, acredito que o pressuposto do filme é inaplicável, pelo menos na dimensão proposta por ele.

Talvez, um dia, seja possível até transmitir dados entre cérebros, mas transplantar a consciência penso ser um objetivo inalcançável.

——-

* Uma outra série com uma premissa semelhante chama-se Altered Carbon.