Grandes soluções, soluções especiais, só podem ser dadas por grandes pessoas, pessoas especiais. E estas, por definição, são poucas. Portanto, quando essas grandes e especiais soluções são oferecidas por muitas pessoas, é sinal de que, provavelmente, essas soluções não são nem tão grandes, nem tão especiais. Talvez nem sejam soluções.

É isso o que está acontecendo com o coaching. A não ser que se considere que a promessa de desenvolvimento da capacidade de superação dos entraves que impedem alguém de alcançar a excelência em sua atividade específica como algo de pouca monta, quem vai negar a grandiosidade daquilo que ele oferece?

Mas se a promessa é grandiosa, ninguém duvida que é necessário preparo para cumpri-la. Por isso, o mínimo que se espera de alguém que se disponha a conduzir o outro pelas vias até o sucesso é a posse efetiva de conhecimento, experiência, maturidade e inteligência que lhe capacitem para isso.

Tais qualidades, porém, não são universais. Pelo contrário, raros são aqueles que as possuem. Existem, mas são poucos. Por isso, quando constato o número crescente de pessoas que se apresentam como coaches, não tenho como não duvidar que trata-se de um inchaço mercadológico, disponibilizando o serviço de muita gente sem o mínimo de preparo para oferecer aquilo a que se propõe.

Assim, acabam muitos se metendo onde não deveriam, falando do que não sabem e prometendo o que não podem entregar. A não ser que se acredite que esses resultados prometidos pelos coaches possam ser alcançados com meras frases de efeito, fundamentados em um psicologismo bocó, suportados por um freudismo popularesco, tendo como instrumental quase único os recursos da programação neurolinguística e do motivacionismo superficial. Se for isso, realmente, o coaching não é algo muito sério. Se, porém, há a consciência de que ele trata de algo maior, mais profundo e mais importante, não há como não concluir que são poucos os preparados para cumprir o compromisso que o coaching firma com seus assistidos.

O fato é que raríssimos são os coaches realmente conhecedores da psiquê humana, estudiosos nos escritos psicológicos e filosóficos de qualidade, versados na literatura universal que espelha amplamente a natureza humana e com experiência no trato dos problemas humanos mais fundamentais.

A verdade é que grande parte daqueles que se lançam como coaches são pessoas sem a cultura necessária para compreender os caminhos obscuros da alma humana. Além disso, não possuem formação intelectual para montar os silogismos necessários que conduzam à resolução dos problemas que se apresentam. Muitos desses profissionais, inclusive, sequer conseguem solucionar seus próprios problemas essenciais, não possuindo, com isso, a vivência que lhes dê autoridade para resolver questões alheias. Há ainda – e não são poucos – aqueles que encontram-se em condições profissionais e emocionais precárias, muitas vezes até piores das de seus próprios clientes.

Só que o mercado não costuma ser paciente. Assim, para satisfazer uma multidão de profissionais ávidos por solucionar suas crises de produtividade, ele encontra seu material naquilo que está disponível e é imediatamente aceito pela massa, a saber, a crença popular na eficácia da psicologia comportamental, na neuropsicologia e na PNL como fatores impulsionadores para o desenvolvimento da excelência humana.

Assim, com exceção de pouquíssimos profissionais realmente competentes, preparados e experimentados para ajudar seus clientes a desenvolver-se profissionalmente, a regra entre aqueles que se denominam coaches é não fazer mais do que replicar slogans intelectualmente pobres, repetir lugares-comuns da psicologia popular e permanecer completamente ignorantes em relação aos fundamentos necessários para uma empreitada tão gigantesca como a de fazer uma outra pessoa superar seus obstáculos pessoais, muitas vezes enormes.

Porém, como para uma sociedade epidérmica o que geralmente importa é menos os resultados e mais a sensação de que as coisas vão bem, criou-se, com isso, uma indústria que se retroalimenta de promessas e esperanças, de onde todos acreditam virá a solução para seus problemas, ainda que essa solução pareça sempre estar em algum momento distante. Mas, o que isso importa? Se todos sentem que algo importante está sendo feito, isso basta para que motivem-se mutuamente e fortaleçam esse mercado.

Com isso, essa máquina de superficialidades vai crescendo, turbinada pelo combustível ilimitado de clichês, de pressuposições psicológicas e de slogans motivacionais. E como quase todos os envolvidos nesse negócio não estão preparados para compreender o que está acontecendo, absorvem toda essa parafernália de trivialidades como se se tratasse da mais valiosa sabedoria universal. E como “a ilusão de compreensão é mais importante para a grande maioria dos seres humanos do que a compreensão em si“, como diz Darlymple, todos acabam acreditando que estão entendendo alguma coisa, quando, na verdade, estão apenas repetindo as frases de efeito que tomam o lugar da verdade.

Basta observar como todos os coaches baseiam-se sempre nos mesmos pressupostos de crenças limitantes, estados desejados, ressignificação e outros, que fazem parte do arsenal mais raso da psicologia comportamental, para perceber que esse grande mercado é um enorme bolha de ar, ainda que cheia de dinheiro dentro dela.

O fato é que nesse mundo do coaching o que mais se vê são cegos guiando outros cegos, todos caminhando juntos, felizes e motivados, em direção à parede da realidade, que sempre se interpõe entre os sonhadores e seus objetivos.

Como consequência, vai aumentando o número de pertencentes a uma geração de gente frustrada, que acreditou nas promessas vazias das soluções psicologistas e que, no fim, por elas mesmas ou por imposição implacável da vida, vão se deparando com a verdade da complexidade da existência, que, aliás, costuma cobrar muito caro daqueles que acreditam em caminhos curtos e atalhos atraentes.

Se tudo isso vai acabar levando a indústria do coaching ao seu colapso eu não sei dizer. Até porque a imbecilidade humana é bastante profícua para servir de ração às grandes idiotices, por um período muito longo de tempo.