O que faz comunistas, como os membros do PCO – Partido da Causa Operária, defenderem, da mesma maneira como fazem conservadores e direitistas, liberdades individuais, falar contra a obrigatoriedade da vacina, criticar o uso de bandeiras identitárias e o politicamente correto e ainda defender o armamento da população?

Dizer que fazem isso como forma de enganar as pessoas, a fim de cooptá-las para seu movimento, é uma resposta bastante simplista, meramente psicologista, e que não explica seus verdadeiros motivos. Para compreendê-los, é preciso antes entender a concepção deles sobre a composição política do mundo.

Quando eu comecei a estudar, de maneira mais sistemática, a filosofia marxista ortodoxa (vertente da qual o PCO faz parte), a primeira impressão que tive é que o que era dito ali não estava totalmente errado. Em termos filosóficos, esse marxismo fala muito em objetividade, realismo, contra o subjetivismo – tudo de maneira que parece estar de acordo com o melhor que existe do pensamento tradicional.

No entanto, apesar das aparências e até das semelhanças pontuais, os motivos do marxismo ortodoxo são completamente outros. Seu realismo é o de um mundo totalmente materializado, sem qualquer abertura para o transcendental; seu objetivismo é de uma realidade fechada, na qual o homem é apenas um efeito; seu anti-subjetivismo é somente uma confirmação de seu próprio materialismo e anti-espiritualismo.

Isso quer dizer que, às vezes,certas semelhanças de concepções são apenas aparentes. No caso dos conceitos filosóficos, são semelhanças meramente semânticas.

Em relação aos assuntos menos filosóficos, apesar de superficialmente algumas ideias manifestadas pelo PCO serem idênticas aquelas que os conservadores e direitistas defendem, os fundamentos são completamente outros.
O PCO é um partido trotskista. Isso quer dizer que ele faz parte de uma ala ainda mais radical do marxismo do que a maioria da esquerda que atua, hoje em dia. Até por isso, sua visão de mundo é bem mais dogmática e dualista do que o esquerdismo globalista que conduz a política mundial. Para um membro do PCO, todos os governos atuais – e os Estados dirigidos por eles – fazem parte de um fascismo reacionário e representam os interesses do capitalismo burguês inimigo do proletariado. Sendo assim, tudo o que os governos fazem não passam de ações opressivas do Estado contra o trabalhador. Sob esta perspectiva, a vacinação obrigatória, o politicamente correto e o desarmamento da população seriam meras maneiras que o Estado burguês teria de oprimir ainda mais o indivíduo, tornando seu governo cada vez mais forte. O PCO, portanto, não está exatamente preocupado com indivíduo, mas em denunciar as ações do que ele considera ser um Estado fascista.

Os trotskistas do PCO não criticam o Estado da mesma maneira que os conservadores e direitistas. Estes defendem a liberdade individual por princípio, independentemente do espectro político que o governo representa. Os trotskistas, por outro lado, acusam os atos específicos desse Estado, não porque entendem que os direitos individuais são indiscutíveis, mas simplesmente por considerarem o atual Estado um representante de uma classe inimiga. O PCO, na verdade, defende os indivíduos por estes viverem sob governos que eles consideram fascistas. Se o governo fosse trotskista, a conversa seria outra.