O sucesso da revolução é o pior inimigo dos revolucionários. Conquistado o poder que almejam, paralisam-se, pois sua atuação é essencialmente contrária a manter-se na administração política. A não ser que façam isso fingindo que estão ainda fora dela.

É que modus operandi fundamental do revolucionário é o levante. Seu método é baseado no fomento da revolta contra os poderes instituídos. Ele precisa de inimigos definidos e que, principalmente, estejam em posição de comando, pois só sabe atuar nos subterrâneos, pela sublevação. É por isso que, quando estão a frente de qualquer governo, permanecem agindo como se fossem oposição, falando como vítimas, parecendo que, a despeito de possuírem a máquina estatal, são pobres perseguidos e marginalizados.

Mesmo no poder não conseguem assumir que são agora o status quo, pois o único discurso que conhecem é o da destruição do que existe. Seu sucesso em conquistar os postos de autoridade lhe tornam parte do sistema e, assim, quanto mais dominam menos têm o que destruir. Então, começam a criar inimigos imaginários, demônios produzidos para permanecer sustentando sua retórica. E mesmo com toda a força em suas mãos, apresentam-se como defensores dos oprimidos contra poderes que dizem ser maiores que os deles.

O fato é que a fala revolucionária é uma constante proclamação pela conquista daquilo que não pode ser conquistado, pois quando o for termina toda a razão de sua existência. Nesse sentido, a utopia lhe cabe muito bem, pois, por ser inalcançável, jamais chega, permitindo que o discurso convocando em sua direção permaneça indefinidamente. No fim das contas, é isso que caracteriza a declaração revolucionária: uma longa marcha em direção ao nada.