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Revolta da Normalidade

A Nova Sociedade, proposta pela elite poderosa, e na qual seremos obrigados a viver, é um simulacro de realidade. Nada nela é genuíno; tudo é uma ilusão; uma imitação grosseira do real, fazendo com que nossos sentidos e percepções sejam o tempo todo enganados.

Isso porque a concepção de seus idealizadores é antimetafísica. Isso significa que nesse novo mundo nada pode ser considerado permanente, nada é perene. Na verdade, é uma sociedade essencialmente materialista, dissociada de qualquer transcendência e que valoriza apenas sua própria capacidade de transmutar-se naquilo que seus manipuladores desejarem.

Essa artificialidade faz com que a imposição dessa nova forma de vida só possa ocorrer por meio de violações graves à natureza humana, o que provoca reações naturais contrárias, contra as quais o projeto precisa se debater.

É por esse motivo que o plano traçado pela elite é delineado para ser implantado gradativamente, numa penetração contínua no seio da sociedade.

No entanto, a reação acaba sendo inevitável e, às vezes, toma proporções inesperadas, como foi o caso dos avivamentos patrióticos ocorridos na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Brasil. Estes são movimentos que se caracterizaram por ser um tipo de revolta da natureza humana, da tradição e da normalidade contra o vilipendiamento que ela vinha sofrendo pela imposição de uma nova ordem social artificial.

Esse é o motivo porque governos como de Trump e Bolsonaro são tratados, pelas forças da elite bilionária globalista, como acidentes de percurso que precisam ser corrigidos rapidamente.

A elite, então, diante dos obstáculos oferecidos pela reação conservadora, a fim de conter aquilo que ela considera retrocessos e retomar suas conquistas, se vê obrigada a abandonar a paulatinidade da implantação dos seu projeto e a promover mudanças mais extremas, chamadas de saltos dialéticos. Faz isso por meio de crises, tragédias ou revoluções capazes de proporcionar mudanças mais dramáticas.

O problema é que saltos, por sua própria natureza, não são facilmente calculáveis em seus efeitos, o que faz com que as políticas globalistas acabem sendo retomadas com ainda mais violência e velocidade.

Assim, após um pequeno alívio reacionário, a multidão, que pôde desfrutar o gosto da esperança de ter seu mundo normal de volta, agora tem de se preparar para uma agressão ainda mais feroz a esse mundo e a tudo aquilo que ela valoriza e deseja preservar.

Críticos flatulentos

Uma crítica honesta, principalmente no campo político, deve apresentar ao menos um vislumbre de uma solução viável para o problema. Sem isso, não passa de manifestação de preferência ideológica ou desafeição pessoal.

Ainda assim, a maioria dos críticos políticos, principalmente aqueles mais ácidos, tornou-se especialista em apontar problemas abstratos, ignorar as contingências concretas e imiscuir-se de oferecer qualquer solução alternativa. Escondem-se por detrás de palavras que soam bem, não dizem absolutamente nada e, pior, não propõem nada de concreto.

Essa atitude tem se manifestado de forma contundente no caso das crises imigratórias pelo mundo e, principalmente, das tentativas norte-americanas, por meio de seu atual presidente, de racionalizar e conter a imigração ilegal. O que mais se vê desses críticos são manifestações de almas escandalizadas, que adotaram os imigrantes, sejam eles quais forem, quais sejam suas intenções e quais forem as maneiras como eles empreendem sua imigração, como sendo os novos judeus diante de uma perseguição às avessas colocada em andamento por governos tidos por esses críticos como fascistas insensíveis, como o dos Estados Unidos.

Parece até bonito ler, por exemplo, um Leandro Karnal escrevendo que “entre a utopia pouco praticável de escancarar fronteiras e a ideia de uma muralha xenofóbica, poderiam existir soluções equilibradas”, mas o fato é que manifestações desse tipo, observadas com mais cuidado, revelam pressuposições mentirosas, que servem apenas para desviar a atenção do leitor do verdadeiro problema, apresentando-se como a parte racional, fingindo oferecer uma solução equilibrada que, na verdade, não existe.

Quando ele contrapõe as ideias de fronteiras escancaradas e muralhas xenofóbicas, na verdade, não está contrapondo ideias verdadeiramente defendidas por gente real. Poucos são os loucos que advogam a abertura irrestrita das fronteiras, como todos sabem que fechá-las completamente é impraticável. Portanto, o senhor Karnal está batendo em espantalhos, criados por ele mesmo, não em agentes políticos reais.

Há no entanto, em sua afirmação, uma crítica sutil, que não vai contra quem supostamente defenderia as fronteiras escancaradas – que ele bem sabe, são pessoas politicamente irrelevantes – mas contra o governo americano. Ao fingir revelar dois opostos sobre um mesmo tema, contrapõe um grupo não identificado e até irreconhecível, contra um governo existente e imediatamente identificável, passando a ideia de que, se aqueles estão errados, este também está, por ser xenofóbico e não querer permitir a entrada de estrangeiros de maneira alguma. O problema é que os primeiros não são ninguém, de fato, enquanto o segundo todo mundo sabe quem é. Ao apresentar essa falsa dicotomia, o senhor Karnal, simulando uma crítica universal, atinge o único alvo realmente verificável: o monstro fascista e isolacionista que quer fechar o seu país em um domo inexpugnável.

Na verdade, me parece que o objetivo do historiador é somente esse mesmo, afinal, a solução que ele finge apresentar não passa de uma bolha de ar que – algo típico de seus escritos e pensamentos – não significam nada, além de belas palavras. A não ser que alguém acredite que “soluções equilibradas” represente algo mais do que um som de flatulências.

O fato é que o tal equilíbrio karnaliano não se sustenta na realidade, pois ignora os problemas reais, como o tráfico de drogas, o terrorismo, a violência das cidades fronteiriças e própria ilegalidade do ato imigratório clandestino. Sua solução, que finge ser honesta, é apenas uma maneira de dizer o quanto ele mesmo possui pensamentos bonitinhos, enquanto seu criticado é mau.

A verdade é que enquanto homens como Leandro Karnal não forem cobrados, nas críticas que fazem, a apresentar soluções factíveis, continuarão a expelir os mal cheirosos elementos que se formam dentro deles, camuflados, obviamente, pelo perfume politicamente correto que sempre lhes acompanha.

É possível gerenciar um país como uma empresa?

A aparente proposta apresentada pelo novo presidente americano, de conduzir o país à semelhança de uma empresa nas negociações comerciais, por incrível que possa parecer, é uma novidade. Tão novo, que mesmo os liberais, conhecidos por sua afeição pela liberdade de mercado, não têm encontrado as categorias onde possam encaixar essa modalidade de condução do país.

Em seu artigo no Institulo Liberal, replicado no blog do Rodrigo Constantino, João Luiz Mauad coloca em dúvida se essa forma de gerir a coisa pública realmente funcionaria. E suas objeções surgem do fato de que, em síntese “nem tudo o que é rentável tem valor social e vice-versa”.

Ocorre que, apesar das razões relevantes levantadas no texto, não há referências históricas para sabermos se essa forma de gerenciamento dos negócios públicos realmente funcionaria. O que conhecemos até aqui foi, na melhor das hipóteses, governos que tentaram se afastar do mercado, deixando-o livre para auto-regular-se.

No entanto, hoje em dia fazer isso é simplesmente impossível, por causa de algo chamado mercado global. Atualmente, há uma infinidade de pactos, regulações e acordos bilaterais e multilaterais entre governos que servem para definir as regras do comércio entre as empresas das nações envolvidas. Assim, não é possível mais para um governo simplesmente decidir se afastar do jogo do mercado, porque este jogo, no âmbito internacional, depende completamente de sua posição.

E não houve na história dos acordos comerciais internacionais país algum que entrou neles com a perspectiva semelhante de uma empresa comercial. Há os protecionistas, que, na verdade, não negociam, mas impõem, quando podem, suas exigências e os liberais, que entram nas rodas de negociações com a mentalidade da coisa pública, do bem comum, só que em escala mundial.

Um governo que simplesmente entre para ganhar, de maneira que consiga extrair os melhores benefícios dos acordos sem, com isso, perder mercado, nem desagradar consumidores internos e externos, nunca se viu.

Até aqui quem negociou tudo isso foram políticos, homens públicos, que pensam antes mesmo das vantagens comerciais, na imagem que o negócio transmitirá para cidadãos e eleitores. Olhando para o passado, não se vê governante que tenha entrado no jogo comercial global explicitamente para ganhar. E isso assusta! Porque os analistas estão acostumados com os homens públicos, que jamais ousariam fazer isso, sob o risco de ter suas imagens públicas arranhadas.

De qualquer forma, uma coisa é certa: o modo como as rodadas de negociações comerciais são feitas pelo mundo têm privilegiado principalmente os países mais pobres, e mais ainda aqueles que se aproveitam para ganhar, explorando seus próprio povo.

As nações mais ricas têm perdido nessa competição. Suas exigências burocráticas internas não lhes permite concorrer nesse mercado em igualdade de condições, acabando sufocados por suas própria estrutura. O resultado disso é a fuga de grandes empresas e, por consequência, de riqueza, para aqueles países que oferecem mais vantagens econômicas para elas.

Diferente de Mauad, porém, não sei se gerenciar o país como uma empresa é algo impossível. Teoricamente, não vejo empecilhos para isso. Na prática, como não tenho referências históricas com as quais possa comparar, me resta esperar para ver o resultado.

O que eu sei é que a visão do bem comum, apesar de todas as promessas de construção do paraíso terrestre, se tornou mais uma maldição do que um bem para o Ocidente.

Por que, então, não tentar de outra maneira?

O America First, de Donald Trump

O “America First”, de Donald Trump, em termos econômicos, nada mais é do que a possibilidade de oferecer ao país uma posição de negociação semelhante a qualquer empresa comercial.

Explico: toda empresa que entra em uma mesa de negociações busca seus próprios interesses. O objetivo é conseguir, para si, as melhores condições, que lhe deem os maiores ganhos e que lhe possibilitem os menores custos.

Nisso, obviamente, é necessário ceder em alguns pontos, já que do outro lado encontra-se outra empresa com os mesmos objetivos e buscando as mesmas vantagens.

Ainda assim, nesses acertos comerciais, invariavelmente, todas as partes saem satisfeitas. Acreditam que cederam até onde era possível e ganharam o que lhes era permitido, conforme as circunstâncias.

Em geopolítica, porém, evita-se aplicar essa mesma maneira de negociação. Como forma de teoricamente equilibrar o jogo, permitindo que países mais pobres possam participar das negociações em condições de igualdade, criou-se a ideia de que as negociações devem ter como objetivo não os próprios interesses das nações, mas a busca de um equilíbrio que, de alguma maneira, promova a justiça entre os povos.

O resultado dessa visão acabou sendo o desfavorecimento das nações mais ricas, sem, necessariamente, favorecer as mais pobres. Quem ganha, de fato, nesse jogo, são os países mais espertos, como a China, com seu comunismo de Estado e semi-escravidão de seus trabalhadores, que aproveita a impossibilidade dos países ocidentais de impor seus interesses, para levar vantagem.

Que cada país busque seus próprios interesses é um princípio que foi desprezado veementemente pelos globalistas e espacialistas em relações internacionais. E agora que Trump promete resgatar isso para os Estados Unidos, boa parte do mundo fica em polvorosa.

Donald Trump e o New Deal de Franklin Roosevelt

O analista político Alexandre Borges detectou diversas semelhanças entre o discurso de posse do presidente Donald Trump e a retórica do New Deal, de Franklin Rossevelt.

De fato, elas existem! A convocação do povo, a colocação do país como uma força superior, o alvoroço nacionalista e todas essas coisas que lembram bastante a proposta do ex-presidente americano estiveram presentes em sua fala.

No entanto, é preciso fazer duas ressalvas:

Primeiro, os tempos são outros! Roosevelt assumiu no período entreguerras, quando o fascismo era um tipo novo de visão política e ainda não desmoralizado, como ficou após o fim dos conflitos. Pelo contrário, o fascismo, apesar de não ter sido assumido por todos, se apresentava como um modelo plausível, uma nova esperança após a Grande Depressão e os efeitos da Primeira Guerra. O fascismo não causava o rechaçamento de hoje, nem era um símbolo de autoritarismo malévolo, se tornando, inclusive, uma forma de xingamento, como o é agora.

Assim, dificilmente Trump teria espaço para implementar um programa fascista, pois não teria, obviamente, o apoio dos democratas e, muito menos, dos próprios republicanos. Não há lastro político para isso. A perspectiva política atual não o permite.

Segundo, as propostas de campanha de Donald Trump, principalmente no campo econômico, são liberais o bastante para afastar qualquer semelhança com o New Deal. É que, diferente da simbiose estatal-corporativista do New Deal, Trump promete mais liberdade econômica interna e rebaixamento da intervenção estatal no mercado, inclusive com diminuição de impostos. Enquanto Rossevelt colocou o Estado como a maior empresa americana, o novo presidente promete tirar o governo, o máximo possível, do mercado. Rossevelt quis criar empregos por meio das obras públicas e do dirigismo econômico, Trump fala em deixar as empresas moverem o mercado livremente.

Diante disso, apesar das aparências, não me parece que há porque se preocupar demais com uma guinada fascista no governo de Donald Trump. Na verdade, se ele cumprir suas promessas de campanha, a semelhança com o proto-fascismo rooseveltiano não passará de uma semelhança estética e não fará mal nenhum à sociedade americana.