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Velhos heróis, velhas raposas

Aqueles que direcionam a agenda cultural e política do Brasil, mesmo após mais de três décadas do fim do governo militar, insistem em lançar-se em um revisionismo histórico daquele período, mantendo uma obsessão por mostrar ao público o quanto os militares eram maus e eles mesmos, os revolucionários, vítimas perseguidas. Em vez de olharem para a frente – o que seria esperado de quem está no poder há, pelo menos, vinte anos -, insistem em permanecer com a mesma retórica e o mesmo discurso do tempo em que eram guerrilheiros, quando lutavam contra o poder constituído.

Essa atitude, porém, não ocorre pelo sincero objetivo de passar a história a limpo. O que eles querem, ao não permitir que 1964 termine, é manter viva a narrativa montada naquela época, pela qual são apresentados como heróis, mesmo que fossem meros guerrilheiros. O objetivo é, principalmente depois que ficou comprovado o quanto suas ações no governo foram caracterizadas pela corrupção e pela destruição das instituições do país, manter uma imagem positiva, não deixando que aquela aura heróica seja esquecida.

Não que tenham sido heróis de verdade – muito pelo contrário! – mas essa tem sido a história contada por eles mesmos aos brasileiros. São, pelo menos, três gerações que cresceram ouvindo que aqueles militantes – muitos deles terroristas –  lutavam pela liberdade e pela democracia enquanto eram caçados pelos malvados militares.

Só que o tempo passou, e os velhos ativistas tomaram o governo. E ficou claro que esses hoje velhos e decrépitos não passam de corruptos sedentos pelo poder. Assim, a única maneira de salvar algum tipo de admiração por eles e manter sua influência no debate político e intelectual acaba sendo não deixar que a velha narrativa morra.

Isso explica essa insistência por, em pleno encaminhamento para o final do primeiro quarto do século XXI, ficarem resgatando as histórias de quarenta ou cinquenta anos atrás, como se o país não tivesse mais nada com que se preocupar senão com os fatos ocorridos naquele tempo.

O que está claro é que o Brasil precisa olhar para a frente, mas está sendo impedido por essa gente que nos prende ao passado, com o único intuito de sobreviver, eles mesmos, como personagens relevantes da cultura brasileira.

Já passou da hora de superarmos essa situação, mas isso só será possível superando as velhas raposas que insistem em manter-nos presos no tempo, apenas para continuarem dando as cartas na política do país.

Rebuscamento afetado

A mente confusa, principalmente quando seu portador possui algum tipo de cultura literária, torna-se uma fonte inesgotável de palavras grandiloquentes, porém sem nexo. A pomposidade da expressão acaba por servir de película protetora sobre a falta de consistência daquilo que se está tentando dizer. De maneira paradoxal, é exatamente esse rebuscamento afetado que torna tudo tão inacessível e, ao mesmo tempo, misterioso, como se fosse algum tipo de sabedoria esotérica, fazendo com que seus autores sejam cultuados como representantes de uma inteligência superior. E essa prática vai se retroalimentando, de tal forma, criando uma elite de estúpidos orgulhosos, que se torna cada vez mais difícil encontrar as possíveis pérolas que possam existir em meio a tanto esterco publicado. No fim das contas, a intelectualidade acadêmica acaba servindo apenas para esconder o que pode haver de verdadeiro conhecimento dentro das universidades e no mundo científico, prestando-se ao papel exatamente contrário para o que existe. Seria muito melhor se fossem mais humildes e seguissem o conselho de Mark Twain: “Se você não tem nada a dizer, não diga nada“.