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Desenvolvimento pleno

Vivemos a era da especialização. As ciências subdividiram-se em matérias cada vez mais específicas. Isto tem permitido que os estudiosos investiguem mais detalhadamente cada área, explorando suas minúcias e pormenores. 

Essa tendência à especialização, porém, traz junto um efeito colateral: o desprezo pela universalidade.

Em uma sociedade onde valoriza-se mais a profundidade específica do que as habilidades e conhecimentos universais, as pessoas passam a preocupar-se apenas com os conhecimentos dos campos onde escolheram atuar. Os conhecimentos que se relacionam com as questões mais gerais são desprezados, tomados por inúteis ou, no máximo, por passatempos interessantes.

Não é por acaso que o que mais vemos, hoje em dia, são especialistas completamente ignorantes em assuntos que não se relacionem diretamente com suas atividades. Com uma formação humana capenga, não é raro muitos profissionais considerados competentes apresentarem deficiências intelectuais imperdoáveis.

Uma falha na formação humana universal pode até ser camuflada por conhecimentos técnicos específicos, mas, cedo ou tarde, acaba revelada. Isso porque mesmo trabalhos especializados exigem o desenvolvimento de capacidades que nada têm a ver com eles. Um médico precisa saber se comunicar bem; um engenheiro tem de estar apto a cumprir o que se determina; o psicólogo precisa aprimorar seu raciocínio; o professor tem de ter uma visão clara da sociedade onde vive. Estes são apenas exemplos de como habilidades que parecem não ter relação com as atividades principais da pessoa são importantes inclusive para o exercício dessas mesmas atividades.

Por isso, o desenvolvimento das capacidades humanas gerais é essencial. Ele possibilita que a pessoa viva sua vida de maneira plena. Isso porque a existência é multidimensional. Sendo assim, para podermos experimentá-la plenamente, é preciso dar atenção às diversas formas pelas quais interagimos com ela. Não podemos ser apenas advogados, comerciantes, químicos, dentistas, enfurnados em nossas atividades, preocupados apenas em sermos profissionais melhores, esquecendo que, antes de tudo, somos humanos com potencialidades muito mais diversas e muito superiores àquelas exigidas pela profissão.

Em tudo precisamos ser inteligentes, pessoas com cultura; precisamos saber raciocinar, organizar nossos pensamentos; precisamos falar e escrever bem; precisamos ter controle emocional; precisamos de espiritualidade; precisamos inclusive saber como colocar tudo isso em prática. Estas não são capacidades acessórias, nem mesmo complementares à nossa formação, mas habilidades essenciais. Quando deficientes, dificultam nossa relação com o mundo, mas se bem desenvolvidas permitem-nos viver a vida de uma maneira integral.

Diante disso, uma formação que nos permita encontrar o melhor de nós mesmos e nos faça interagir com este mundo de uma forma plena é o que eu proponho. Uma formação humana completa, sem deixar nada para trás.

Alargando as fronteiras intelectuais

Muito da energia gasta por estudiosos é para (1) justificar as próprias doutrinas e (2) destruir as doutrinas alheias.

Isso pode ser útil, em um sentido racional, pois ajuda a encontrar as melhores racionalizações para o que acreditam. No entanto, em um sentido humanístico mais amplo, é prejudicial.

É que o aprofundamento em qualquer matéria exige, contraintuitivamente, o alargamento das fronteiras intelectuais. Quanto mais quer-se compreender algo, mais aberto a contribuições estrangeiras deve-se estar.

Toda especialização é burra quando fecha-se em seus próprios preceitos. Só ao permitir ser invadida por conhecimentos externos é que robustece-se, podendo alimentar-se daquilo que nunca encontraria dentro de si mesma.