Um abandono gradativo do senso comum caracteriza a forma de pensar do homem inteligente da modernidade. Em sua pretensão de ser racional, passou a fiar-se mais em sua cabeça – mas uma cabeça que parece plainar solta pelo mundo. O que ele sabia deixou de ser o que simplesmente sabia, seja de que forma fosse que tivesse vindo a saber. Passou a valer somente o conhecimento que podia explicar, principalmente se pudesse fazer isso pelas estritas regras do discurso lógico.

Obviamente, esse racionalismo logo deparou-se com diversas limitações. Ele constatou que muitas provas precisavam ser materializadas, pois muitas coisas exigiam mais do que uma mera explicação. Em vez, porém, de recuar à sabedoria anterior, que, sobre muitas coisas, sabia que sabia e satisfazia-se com isso, os racionalistas foram ainda mais longe e acrescentaram ao raciocínio a exigência de experimentação.

Tudo aquilo que era um ingênuo e imediato conhecimento da verdade ficou suspenso, até que a sapiência pudesse testá-la materialmente e explicá-la discursivamente. Deixou de existir a evidência direta e a verdade tornou-se um conceito. A certeza transformou-se em algo raro, difícil de ser obtido e completamente dependente de elementos externos.

A verdade ficou tão difícil de ser comprovada que era óbvio que o próximo estágio seria a própria desconfiança sobre sua existência. Fizeram tantas exigências para a certeza, que chegou um momento que ela já não se mostrava, tornando tudo duvidoso.

Mas os homens modernos eram racionais demais para simplesmente tornarem-se céticos; confiavam demais em sua inteligência para simplesmente tornarem-se cínicos. Transformaram-se então em cientistas e elevaram sua deusa, a Ciência, como magistrada universal de todos os juízos.

Hoje, só é verdade o que a Ciência diz que é. Não importa a convicção subjetiva, a evidência direta, o senso comum – o que não passa pelo fogo do altar científico não tem sequer o direito de reivindicar seu lugar no mundo.