A vida intelectual é um vai e vem constante de ideias que, como ondas, se aproximam e se afastam

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Para empreender uma vida intelectual produtiva, muita concentração é exigida. Não apenas aquela atenção necessária para o momento da produção, mas uma consciência quase intermitente das razões fundamentais e dos objetivos buscados. Como o trabalho intelectual, quase nunca, é fruto de um átimo, não basta separar momentos de isolamento e dedicação exclusiva, mas é preciso que a matéria da qual trata esteja constantemente na mente do autor.

Para que isso se torne realidade, o que ele deve achar é aquele pensamento essencial que será o alicerce de todos os outros. Sem ele, a produção intelectual é impossível. É por isso que é tão difícil esse empreendimento. Por isso, tão poucos enveredam por essa estrada. Eles sabem que não há nada mais tormentoso para o homem do que fazer com que seus pensamentos sejam claros e coordenados. O esforço exigido é muito grande. E não há nada no que sejamos mais preguiçosos do que no exercício mental.

Na verdade, a vida intelectual é uma vai e vem constante de ideias que, como ondas, se aproximam e se afastam. Às vezes, elas são nítidas e fortes, podendo ser descritas com fidelidade, outras vezes são apenas uma imagem pálida, distante, que dão apenas uma sugestão do que realmente são. Como o autor, porém, não sabe se na hora do seu trabalho essas ideias estarão próximas e nítidas ou distantes e indiscerníveis, seu desafio é, mesmo nos instantes de descanso, tornar tais pensamentos mais constantes e mais claros, a fim de que possam ser colhidos a qualquer momento.

O que eu quero dizer é que quem produz algum trabalho intelectual não pode ficar à mercê da inspiração ou do insight. Eles são úteis e, muitas vezes, são o início de um trabalho relevante. Mas a obra intelectual, mais que o compartilhamento de momentos de genialidade, é o desenvolvimento de algo grandioso, que se revela aos poucos, até se mostrar como uma obra sólida e bem trabalhada.

De fato, um trabalho intelectual é mais do que o reflexo de uma inteligência arguta, mas o produto de uma mente insistente, que, o tempo todo, procura dar cores nítidas a ideias que, em princípio, são apenas pensamentos lívidos.

Por isso, diz-se que a vida intelectual é uma entrega. Quem decide por ela, não mais tem a paz dos ignorantes, que amortecem seus cérebros, evitando exercitá-los na tentativa de compreensão da realidade. Quem escolhe a vida intelectual deve saber que, a partir desse momento, terá a tensão como companheira, pois os elementos a serem concatenados são diversos, os recursos para juntá-los, escassos, e a energia para unificá-los, reduzida.