As pessoas dizem querer educar sua vontade, mas não gostam de empreender demasiado esforço cognitivo nisso. Preferem ações com resultados imediatos, como uma técnica infalível, que lhes permita obter o que procuram sem ter de pensar muito no assunto. Na verdade, não querem educar coisa nenhuma.

Para quase todos os problemas da vida, elas procuram soluções práticas, se possível instantâneas. Isso porque pensar dá muito mais trabalho do que fazer esforço físico. Não por acaso, academias de ginástica sempre foram mais frequentadas que as livrarias.

No entanto, os problemas relativos à força de vontade, diferente do que pode parecer à primeira vista, não são, em essência, do corpo. A vontade é uma expressão do intelecto e dele devem vir as devidas soluções.

Na verdade, esses problemas relativos à vontade envolvem um complexo de elementos intelectuais, que apontam para seu cumprimento, e instintivos, psicológicos e fantasiosos, que atuam no sentido contrário. Como o inferior não pode ordenar o superior, cabe ao intelecto, como elemento superior, direcionar o comportamento, ordenando o restante.

O interessante é que, mesmo as ciências que estudam a alma e o cérebro têm se encaminhado para um crescente ceticismo em relação à confiança que se deve ter com a razão consciente, enquanto buscam as respostas sobre o comportamento humano nos processos neurobiólogicos e na anatomia cerebral. Neste ponto, sou antiquado: ainda acredito na boa e velha razão.

Não sou ingênuo em acreditar na infalibilidade da razão. Pelo contrário, sei bem o quanto ela pode falhar, e o quanto de viéses podem influenciar nossos raciocínios. Isso não significa, porém, que ela é absolutamente inconfiável. A razão continua sendo o nosso maior tesouro e abdicar dela é, de alguma maneira, abrir mão da própria humanidade

Ter a razão como centro ordenador do comportamento não significa apostar num racionalismo rígido e frio, pelo qual a forças biológicas e inconscientes são ignoradas em favor de soluções meramente lógicas. É apenas permitir que aquilo sobre o qual há algum controle esteja no comando.

Portanto, no planejamento da educação da vontade, a razão deve atuar como o centro unificador, aglutinando sob seu governo todos os outros elementos da natureza humana.