Eu gosto de ler biografias. Geralmente, elas contêm os grandes feitos, dos grandes homens, que nos inspiram. É isso que buscamos nelas. Queremos saber o que fizeram, por que fizeram, como fizeram aqueles que marcaram a humanidade. Então, as lemos para saciar a necessidade humana de saber que é possível viver mais do que o trivial; de superar o comum.

No entanto, apesar de apreciar as biografias, elas provocam em mim uma sensação ambígua. Ao mesmo tempo que me instigam, ao apresentar-me o que há de mais poderoso na natureza humana, despertam também um sentimento de pesar, ao fazer-me constatar a fugacidade da vida, mesmo dos heróis.

Uma biografia é uma apresentação muito sintética da trajetória de uma vida. Ela espreme todos os feitos do biografado em algumas páginas, permitindo-nos acompanhar a construção de suas obras, intelectuais e materiais, que levaram anos para ser erigidas, em algumas palavras. Isso faz todo o trabalho desenvolvido por essa vida parecer ter muito menos sentido do que quando as coisas foram realizadas, de fato.

Principalmente, quando chegamos ao final do livro que, invariavelmente, culmina com a morte do biografado, aquela correria que ele se impôs, as lutas, as dificuldades e os projetos que empreendeu parecem transformados, ao serem comprimidos em algumas folhas de papel, numa carreira vã. Uma coisa é pensar a morte como o fim de décadas de uma vida; outra coisa é vê-la como a finalização de algumas horas de leitura. Por este prisma, tudo parece realmente bastante fugaz.

Por isso, para mim, as biografias têm sempre um tom melancólico, por me parecerem um quadro bastante implacável de como tudo, na vida, quando visto da perspectiva da morte, parece irrelevante.

Isso não significa que as biografias não sejam uma inspiração. Tanto que eu continuo lendo-as e apreciando-as. No entanto, na minha visão, elas têm sido uma inspiração, menos pelos grandes feitos e mais por me fazerem enxergar a fragilidade da vida, mesmo dos maiores seres humanos que já existiram.