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A natureza espiritual maligna do marxismo

O marxismo é, de diversas maneiras, uma usurpação e uma paródia mal feita tanto da religião cristã, como da própria civilização ocidental. O que ele fez foi tomar tudo o que nosso mundo criou e desenvolveu e reter com ele, como se ele, o marxismo, fosse o possuidor legítimo de suas qualidades.

Foi dessa maneira que ele se apropriou da linguagem cristã, de sua moral e também de seu caráter salvífico, tentando substituir o cristianismo como solução viável para as necessidades e expectativas do ser humano. E tomou para si ainda o que a própria Europa ofereceu ao mundo, arrogando-se de herdeiro de suas conquistas. Tanto que, nas palavras de Lenin, “o marxismo é o sucessor natural da filosofia alemã, da economia política inglesa e do socialismo francês”.

Formou-se assim, respectivamente, o espírito, a alma e o corpo dessa entidade maligna que surgiu para enganar o mundo com sua promessa de redenção.

Quem acha que o marxismo é apenas uma ideia, engana-se redondamente. É bem mais que isso. Ele é uma manifestação espiritual, um produto dos tempos, um filhote de um cristianismo cansado e desiludido.

Por isso, atacá-lo apenas politicamente é tão inócuo como querer derrotar um demônio a vassouradas.

O espírito marxista precisa ser encarado em várias frentes, como ideia e como força política, mas também como poder invisível e sutil, o qual se vence com palavras e força, mas também com inteligência, jejum e oração.

Rob Bell e a eternidade do Inferno

A eternidade infernal sempre será uma afronta à nossa percepção do divino. O aconchego do descanso no amor incondicional do Pai parece aviltado pela possibilidade de um castigo que é eterno. Com os instrumentos naturais, com o entendimento e sentimento apenas, acreditar que Deus permitirá que homens e mulheres sejam, sem cessar, punidos, nos parece cruel demais, mesmo em relação aos homens mais pecadores. Se alguém não sente esse incômodo, é porque está anestesiado por uma religiosidade fria, apartada da realidade.

Isso explica muito o sucesso de Rob Bell, pastor-fundador da Mars Hill Bible Church, em Grand Rapids, Michigan, nos Estados Unidos. Ao assumir uma crença universalista, tornando o Inferno, ou algo parecido, apenas uma coisa passageira, afirmando que, no fim das contas, todos serão restaurados para a comunhão divina, foi ao encontro do anseio de muitas pessoas que, mesmo sendo cristãs, não conseguem enfrentar a dureza daquela verdade revelada.

Em seu livro, “O amor vence”, o pastor Bell tenta expor sua doutrina, que, em essência, é universalista e, assim, causou certo alvoroço no meio cristão, principalmente protestante. No entanto, esse debate ocorre menos pelo tema em si, que é tão velho quanto o próprio cristianismo, mas porque o ministro americano é quase uma celebridade e, assim, o que diz, de alguma maneira, tem influência no povo cristão, não apenas daquele país, mas chegando mesmo nestas terras longínquas.

O universalismo é, resumidamente, a crença de que todos os seres inteligentes serão, em algum momento, restaurados à plena comunhão com Deus. Assim, o Inferno, se existir, não será eterno. O fundamento principal para essa crença é o amor divino. Os universalistas acreditam que se Deus é amor, não faria sentido permitir que os homens, que em sua totalidade são objetos desse amor, sofressem infinitamente as penas infernais.

Na história da Igreja, houve pensadores universalistas, muitos deles bem conceituados, como Clemente de Alexandria e Orígenes. Entre os modernos, é conhecido o universalismo de R. N. Champlin, erudito protestante que, em seus escritos, tem servido de apoio para muitos estudantes de Teologia.

Todo esse debate, porém, não está centralizado na questão geral do universalismo, já que este não é um assunto passível de discussões por incautos e incultos. O que acaba se tornando objeto de opiniões é o consequente entendimento sobre o Inferno que a ideia universalista lega para os estudiosos, estudantes e leitores da Bíblia.

Se haverá uma restauração derradeira de todas pessoas, o Inferno, logicamente, não é eterno. Se ele existe, no máximo, servirá como um período de emenda. No fim, desaparecerá, por simples inutilidade e esvaziamento, o que o torna muito parecido com um Purgatório, na verdade.

Rob Bell crê nisso, apesar de não deixar claro se o Inferno é um lugar, um estado ou um momento. E quando se depara com as palavras de Cristo, que afirma que irão alguns pecadores “para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna”, o pastor simplesmente afirma que Jesus não está falando de um castigo “para sempre”. Ora, se castigo eterno não significa para sempre, significa o quê, então? Por mais que o pastor faça um malabarismo para explicar o significado da palavra grega aion, no que ele não está essencialmente errado, já que um de seus significados seria mesmo “era”, a palavra usada no livro de Mateus, aionios, é um adjetivo que é, mais usualmente, entendido como algo sem começo, sem fim, ou sem começo e fim, ou seja, eterno. Portanto, é muito difícil interpretar de outra maneira as palavras de Jesus.

A questão principal e mais trivial, no entanto, é que o Inferno, como nos é revelado, existe, como algo sem fim, portador de penas sem fim. Ainda que compreendê-lo dessa forma seja uma afronta à percepção natural, assim é que nos está ensinado pelos Evangelhos. E é exatamente esse incômodo e essa agressão ao natural que o torna tão convincente. Sendo o extremo negativo da existência, o afastamento completo do Criador, sua realidade coloca o homem presente no intermédio entre duas pontas que o direcionam decididamente. Seria ingênuo acreditar que os seres humanos, apenas por sua intuição, raciocínio e sensibilidade naturais, fossem capazes de compreender a realidade da bondade divina e por Deus decidir. O inferno e o céu são realidades que revelam os extremos da existência, que por suas características principais – o afastamento ou a comunhão plena com Deus, têm também a função de fazer o ser humano decidir pela segunda. Sem o entendimento desses dois extremos, restaria ao homem a confusão de sua própria realidade presente, difusa, dicotômica, incerta e vacilante. Neste caso, o certo e o errado, o bem e o mal e a verdade e a mentira estariam misturados a ponto de não se diferenciarem.

Quando o pastor americano afirma, categoricamente, sobre a não eternidade do Inferno, ele está indo um pouco além do que está revelado. Mais importante, porém, de saber se ele tem razão ou não, é entender que afastar a ideia do castigo eterno do imaginário das pessoas é lançá-las na confusão de suas próprias existências dúbias. Se assim o Inferno foi revelado é porque é assim que ele deve ser entendido. O que Deus fará depois, isso é apenas problema Dele.

O Caráter Religioso do Marxismo

Não é possível negar a influência que as ideias marxistas tiveram em todo o mundo. Além dos países que viveram ou ainda vivem sob governos explicitamente marxistas, como os comunistas propriamente ditos, mas também os socialistas das mais diversas vertentes, há um avanço que vai para além da política, que invade a cultura, fazendo com que o pensamento de Marx seja reproduzido nas universidades, nos meios artísticos, jornalísticos e até na indústria do entretenimento.

A pergunta que deve ser feita, porém, é: como uma ideologia fundamentada em textos de um pensador medíocre, que errou praticamente todas as suas previsões, intelectualmente desonesto e que criou uma filosofia que não passa de um arremedo materialista do idealismo hegeliano, pôde influenciar tanta gente?

Uma das respostas é dada pelo escritor brasileiro Heraldo Barbuy, que, em seu livro ‘Marxismo e Religião’, foi taxativo ao afirmar que “o marxismo não era ciência, e sim religião; indiferente aos fatos que o contradizem, progrediu como fé“. O que ele defende é que o marxismo se mantém cada vez mais forte simplesmente porque possui aspectos maiores do que meramente políticos; é, na verdade, uma seita pseudo-religiosa. Mesmo com os erros de previsão, mesmo com as análises eivadas de incongruências, ele permanece porque o cerne de sua força não está em suas ideias, mas em seu espírito – um espírito de fé.

Se nós observarmos bem, identificaremos claramente esses elementos religiosos listados pelo senhor Barbuy. Por exemplo, como em toda seita, no marxismo, a correção lógica, a rigidez filosófica ou a comprovação dos dados oferecidos são dispensáveis. Podem ser úteis para dar uma aparência científica às suas teses, mas o que vai manter a ideologia viva será sempre a manutenção do fervor religioso e do apego emocional à crença ideológica.

Outra característica típica de seita é a existência de profetas fundadores ─ e esta é a posição, de fato, que ocupam Marx e Engels. Eles, como bons profetas, foram os responsáveis por transmitir suas visões sobre os tempos futuros, apontar as mazelas do presente e prognosticar sobre os últimos dias. Se erraram quase tudo que previram é um detalhe que todas as outras seitas também incorreram e, da mesma forma, sobreviveram. Como Leon Festinger ensina em relação à dissonância cognitiva, a fé na doutrina se fortalece exatamente quando ela se prova mais equivocada.

O marxismo também mostra-se religioso quando apresenta uma promessa, disfarçada de previsão: a do advento de um paraíso vindouro. À semelhança do céu cristão, o futuro comunista é o tempo quando os males cessarão, a harmonia prevalecerá e os aspectos opressores do tempo presente não mais terão força. Até um certo saudosismo de uma Era de Ouro, nesse caso em uma interpretação tosca do paraíso adâmico, existe nos escritos de Marx, Engels e outros de seus apóstolos. Para eles, também com alguma semelhança com o Reino celeste de Cristo, o futuro paradisíaco comunista será um tempo além da história, quando os aspectos que afetam o presente não mais terão efeito.

Os elementos religiosos do marxismo não param por aí e ele apresenta seu próprio livro sagrado – no caso, ‘O Capital’, d Marx. Todo marxista o tem como uma descrição perfeita da realidade e o usa como modelo para a interpretação das relações econômicas na sociedade. Não importa que essa obra tenha sido desconstruída por diversos pensadores. Lembre-se: marxismo é religião e sempre há um argumento para justificar os aparentes erros de seu escrito sagrado.

Para manter a fé de seus seguidores, como é comum a qualquer religião, o marxismo também gerou o seu próprio diabo. No caso, os demônios são os capitalistas. Da mesma forma que o diabo obscurece o entendimento do homem, para que não perceba sua condição de pecador necessitado de redenção e cura, o proletariado oprimido é alienado pelo capitalista que, por meio de seus métodos, impede que ele perceba o seu estado de alienação e busque a redenção por meio da consciência de sua posição e pela luta contra essa classe opressora.

Até as fragilidades das religiões o marxismo apresenta, como o fato de fragmentar-se em novas seitas, variações, partidos e dissensões. Ainda assim, como é comum também às religiões, a despeito dessas divisões cindirem o movimento, de alguma maneira, a homogeneidade ideológica se mantém intacta, preservando um núcleo de fé inabalável.

Não é por acaso que é tão difícil convencer um marxista que a ideologia que ele professa é uma fraude. Ninguém abandona sua fé por causa de argumentos racionais contrários a ela. Afinal, uma crença religiosa amarra o fiel pelo espírito, pela promessa, pelo sonho. Um militante marxista pode ter todos os argumentos do mundo para justificar sua adesão (como todo religioso o tem em relação à sua própria fé), mas é certo que eles não passam de uma fachada racionalizante para algo muito mais profundo: a necessidade de fazer parte de uma causa maior. No caso, a causa socialista.