Em geral, pessoas comuns não são profundas. Poucas são aquelas que, de fato, refletem para além da mera superficialidade. Isso fica muito claro quando observa-se os debates políticos que se proliferam nessas épocas de eleições. Nestes dias, por toda parte, lê-se e ouve-se conclusões que são grandes edifícios construídos sobre palitos de dentes.

Isso não seria nenhuma excrescência se fosse um fenômeno restrito às pessoas comuns. No entanto, quando nos deparamos com as opiniões de boa parte dos analistas políticos, cientistas, jornalistas, pensadores e, inclusive, dos próprios políticos, constatamos que a opinião superficial deixou de ser a voz das massas, mas passou a ser o coro em uníssono de praticamente todo mundo, inclusive daqueles que dizem fazer parte da elite pensante.

O fato é que estamos viciados em impressões e essa é a origem da superficialidade reinante. Esse vício é a fonte de nossa pobreza cognitiva e, por isso, combato-o na primeira aula de meus cursos sobre leitura e pensamento. Isso porque tenho plena consciência que, enquanto não se supera essa mania por julgar tudo superficialmente, nenhum pensamento que se construa tem algum valor.

O que se constata nessas eleições é exatamente isso: todos os ataques, todas as críticas, todas as opiniões são fruto não de qualquer proposta concreta ou reação a essas propostas, mas simplesmente das sensações provocadas pelo superficialismo reinante. O excesso de adjetivos é a prova disso – homofóbico, racista, sexista, fascista não são, nem de longe, descrições da realidade, mas apenas xingamentos reflexos de sentimentos despertados. E quando isso acontece, tudo é possível, como chamar de nazista um defensor de Israel ou de fascista quem quer permitir o armamento da população.