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Obsessão pelo meio-termo

Há uma ânsia, principalmente nos meios mais intelectualizados, de, diante de um assunto qualquer, tentar colocar-se sempre numa posição mais ponderada. Abundam os opinadores que buscam parecer moderados, equilibrados, portadores do mais absoluto bom senso. Ninguém quer parecer radical, ser visto como um extremista.

É verdade que o pensamento grego dizia que a virtude se encontra no meio-termo. E esses senhores inteligentes costumam apoiar-se nisso para se apresentarem como os donos da ponderação. O problema é que a atitude que eles tomam, de obsessivamente amenizar qualquer opinião, acreditando que, com isso, serão os representantes da prudência, está longe do que propunha a sabedoria antiga.

O meio-termo não pode ser o resultado de um cálculo ético. Ele não é achado, como muitos pensam. Na verdade, o meio-termo é imediatamente identificado. Por isso, é uma referência. Não se calcula a coragem, nem se aquilata a temperança, nem se mesura o amor.

Os extremos, estes sim, são medidos a partir da referência que o meio-termo oferece. Tem-se o que é certo e, identificado este, vislumbra-se suas extrapolações, o exagero, por um lado, e a deficiência, por outro. Se, por exemplo, a coragem é imediatamente identificada, a imprudência é aferida a partir dela. O mesmo acontece com a covardia. Isso quer dizer que só é possível saber que alguém é imprudente ou covarde porque temos uma idéia clara do que é ter coragem. E se temos uma idéia clara é porque ela é algo estável, fixo, imediatamente percebido.

Por isso, não pode haver uma busca obsessiva pelo meio-termo. Quem tenta, o tempo todo, encontrá-lo, acaba caindo, invariavelmente, em algum de seus extremos. É isso o que acontece com aquelas pessoas que têm medo de parecer radicais. Constantemente, acabam agindo de maneira covarde, ao aplacar atitudes que são realmente corajosas.

Agredir um estuprador, de maneira violenta, quando este tenta consumir seu ato, é o correto a ser feito. O obcecado por ponderação, porém, é capaz de achar que a via da persuasão talvez seja, neste caso, a atitude mais acertada a se tomar, aplicando a doutrina do meio-termo. Assim, enquanto a vítima é possuída, pode ele, pelo menos, gabar-se de ter tentado ser equilibrado. Se a coitada saiu machucada… Bom! Isso, o moderado vai dizer, já não é culpa dele.

Extremamente covardes

Por detrás de quase todos os críticos do extremismo residem extremos covardes, que temem se comprometer com algo e querem ter sempre à disposição a possibilidade de escapar.

Ao atacarem o que chamam de extremismo, na verdade, estão criticando a convicção. Isso porque não suportam pessoas que sabem no que acreditam e defendem isso até o fim. Para os frouxos facilmente escandalizáveis, toda demonstração de certeza é uma agressão.

Até porque nem sempre a moderação é uma virtude. A moderação da verdade, do bem, da justiça, por exemplo, não pode ser tida como um objetivo a ser perseguido.

O extremismo que deve ser criticado é apenas aquele alcançado sem reflexão, sem prova, sem razão. O extremo, em si mesmo, não é errado, mas estar nele de maneira leviana e obtusa.

Se porém uma convicção é atingida após ter sido devidamente provada, que mal há em permanecer ali de maneira extrema?

Por isso, eu nunca me pergunto se alguém está sendo radical, extremista ou coisa do gênero. Minha única indagação é: o que ele defende é certo?