A pretensão de neutralidade pode parecer, à primeira vista, uma atitude de bom senso. No entanto, ela revela muito mais as verdadeiras preferências da pessoa do que ela tinha intenção de mostrar. E apesar de não querer se apresentar como vinculada a nenhum dos lados, acreditando que assim passará uma imagem de equilíbrio – diferente de tantos radicais que andam por aí -, acaba apenas revelando que sua posição já está definida de antemão.

Ser neutro, principalmente em política, está longe de significar não ter opiniões. Pelo contrário, denota convicções muito bem definidas. O que a pessoa pretende, ao afirmar neutralidade, é desvincular-se de qualquer identificação com um dos lados do espectro político. No entanto, sua opção pela neutralidade, por não ser abstenção, mas escolha, invoca definições claras, sempre.

E o mais revelador nisso é que tal neutralidade, no fim das contas, longe de afastar a pessoa dos opostos, identifica-a com um deles. Porque o que separa os lados é uma linha tênue que não permite, na maior parte das vezes, que haja noções intermediárias entre eles.

Na verdade, em argumentação não existe escolha neutra, mas há uma escolha que parece neutra, como diz Chaim Perelman. Com efeito, evocar a neutralidade é apenas uma tática de engano. Quem o faz, busca aparentar isenção, mas tem suas convicções muito bem fundamentadas.

Veja o caso da chamada terceira via, que se apresentou como uma alternativa à polarização política entre direita e esquerda, mas, de fato, se mostrou apenas mais uma versão, ainda que levemente atenuada, do pensamento socialista.

Alguns ainda tentam colocar-se como em um centro, como se isso representasse um posicionamento superior e livre de extremismos. No entanto, em política, o centro tem servido apenas ao clientelismo e ao conchavo, ao permitir que quem ali se encontra possa se aproximar de qualquer um dos pólos conforme seus próprios interesses e de acordo com as circunstâncias.

Por isso, desconfio de todo discurso que tenta aparentar-se neutro. Fujo dos políticos que dizem-se de centro. E mesmo Deus afirma sobre eles – que são os mornos citados nas Escrituras – que vomitá-los-á de sua boca.