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O perigo da busca pela igualdade

Não se deve confundir política com altruísmo. Sendo algo que trata da coisa pública e do interesse comum (de fato, de interesses diversos), o mero fazer o bem, na política, como o ato de desapego que oferece para o outro algo que é seu, não existe.

Não que a política necessite ser essencialmente egoísta. Mas, como ela trabalha com direitos e deveres e propriedades alheios, e o altruísmo exige que quem o pratique disponha do que é seu, vemos que falamos de coisas de naturezas completamente diferentes.

Não que eu advogue um maquiavelismo puro e simples, mas o florentino, a despeito da malignidade de suas propostas, entendeu bem que, quando o assunto era política, o que estava em jogo era o poder e os interesses, não a caridade.

Além do mais, nem é preciso que as pessoas sejam essencialmente altruístas para ajudarem-se mutuamente. Basta que cada um busque, legitimamente e com respeito aos direitos alheios, seus intentos, sua felicidade. As necessidades diversas geram demandas diversas e oportunidades diversas. E isso os constituintes americanos entenderam perfeitamente, tanto que fizeram constar o direito à busca da felicidade em sua Carta Maior.

Até porque, olhando em retrospectiva para a história, aqueles que prometeram a igualdade a todos, foram os que causaram os maiores males. Foram os propagadores do mundo igualitário, que se fingiam altruístas, que assassinaram mais gente e colocaram mais pessoas na miséria absoluta.

Por outro lado, a nação que mais estimulou o lucro, o empreendedorismo, a corrida pelo sucesso econômico, a competição e a concorrência foi a que conseguiu mais elevar o nível de vida do seu povo, chegando mesmo a corrompê-lo com tanto luxo e facilidades.

Mas por que, então, mesmo diante de fatos notórios, tantos ainda insistem em louvar a igualdade, quando já ficou claro que sua busca é maléfica e seu intento impossível? Isso não é difícil entender! Basta observar que quem reclama por igualdade, invariavelmente, está em posição inferior. Quem se encontra em um nível acima, nunca abre mão de seu status em favor dos de baixo. Assim, é evidente que toda reivindicação por igualdade é motivada pela inveja. O sucesso alheio, a conquista do outro e tudo aquilo que não foi possível, seja por que motivo for, a uns, causa nestes o sentimento de injustiça, que, para eles, precisa ser remediado.

Nisso, como não podem superar, por si mesmos, essa desigualdade, clamam pela intervenção estatal, como crianças correndo para pedir ajuda ao pai, diante dos malvados que lhe ameaçam. Então, promovem os governos, como se estes tivessem a obrigação de tornar todos iguais, ignorando, por completo, não apenas as diferenças naturais, mas, principalmente, a diversidade de interesses, empenho, força e mérito.

Surge, daí, o Estado gigantesco e poderoso, que se encontra no direito e na obrigação de colocar suas mãos em tudo, de tentar fazer com que ninguém se destaque, de nivelar todos, a fim de, conforme os espertos entendem, promover a justiça social.

E o governo desse Estado se promove exatamente na promessa de oferecer igualdade entre todos. Em países que governos assim se estabelecem, o empresário é tido por ganancioso e mau, enquanto o governo se apresenta como o verdadeiro altruísta, pronto a conceder aqueles que mais precisam o que é necessário para o suprimento de suas necessidades.

Ocorre que para o altruísmo exige-se a propriedade. Apenas faz caridade quem tem algo a oferecer e abre mão disso em favor do outro. E o Estado nada possui. Tudo o que ele dá, necessariamente, precisa tirar de alguém. Portanto, o altruísmo, como política governamental, é sempre um furto.

Ademais, o resultado dessa falsa filantropia é sempre desastroso. Se alguma igualdade governos assim conseguem distribuir, é a igualdade na miséria. Se alguma prosperidade conseguem promover, é a da minoria privilegiada e parasita, que se atola na riqueza expropriada da maioria produtiva.

Por isso, quem canta por igualdade, sabendo ou não, longe de promover o que quer, está, de fato, atraindo a miséria. Não bastam as palavras bonitas e as boas intenções, é preciso que tudo se harmonize com a realidade. Mas a ideologia é burra demais para se importar com isso.

A falsa moral contemporânea

Não sou um santarrão, nem tenho a pretensão de agir como um puritano. Tenho muitos defeitos para isso. Quando, mais novo e imaturo, acreditei que podia alcançar tal perfeição, apenas acumulei certa arrogância, ainda que sutil. É que todo pretenso santo impõe um padrão que acaba servindo não apenas para si mesmo, mas, obviamente, para o julgamento alheio.

É certo, porém, que a moralidade é necessária. Um povo sem fundamentos morais tende a desaparecer. São eles que dão o sustento para a construção da sociedade e a mantém saudável. Por mais que isso incomode os libertários e revolucionários, não há como, simplesmente, negar a moralidade como se ela fosse dispensável. É preciso aceitá-la, para a própria sobrevivência.

O problema é saber qual a moral aplicável. Isso porque mesmo os movimentos revolucionários se basearam em uma moral rígida. Porém, era uma moral infernal, uma réplica mal feita e corrompida da moral cristã. E a moral, quando não baseada nos princípios corretos, se torna pior que sua ausência.

Basta ver como o mundo de hoje, politicamente correto, tenta impor sua própria moral sobre todos. Demonstrando afetação quase histérica, ele exige que todos obedeçam sua cartilha ditatorial, onde é errado dizer muitas coisas, fazer muitas coisas, pensar muitas coisas.

O problema é que a moral que sustenta essa imposição atual é falsa, principalmente porque não se baseia em nada, senão em uma tíbia lembrança de um tempo onde ainda existiam coisas certas e erradas. Assim, apesar de o mundo contemporâneo afirmar que muitas coisas devem ser proibidas, ele já não sabe dizer por que. E nisto, as causas que mais se destacam são aquelas que interessam aos grupos mais atuantes.

No fim das contas, a sociedade de hoje acaba sendo mais moralista que muitas outras anteriores, mesmo bastante religiosas. O problema é que a moral atual não tem princípios. Ela se baseia em sentimentos, em sensações e, pior, em interesses. Não tem como dar certo e serve só para impor sobre os outros impossibilidades conflitantes. É apenas um pretexto para os tiranos.

Por isso, antes da moralidade, a verdade. É esta que estabelece os padrões daquela, e não o contrário. A moral precisa ser estabelecida por algo que transcenda os indivíduos. A moral é transcendente, pois apenas o superior pode determinar o certo e o errado. Quem não acredita nisso, fingindo lutar por algo superior, apenas sufoca os outros com a própria vileza.

O politicismo integral brasileiro

Quando José Ortega y Gasset criticava o politicismo integral, que ele mesmo definia como a absorção de todas as coisas e de todo o homem pela política, ele sequer imaginava a existência de um classe política e um jogo político como do Brasil atual. O que temos aqui está em um nível muito abaixo do que qualquer pessoa de bom senso pode imaginar. Se pensar apenas em política, no tempo do escritor espanhol, já indicava um tipo de vida inferior, ter a política brasileira como a única preocupação da existência só pode levar a pessoa às raias da imbecilidade.