Não adianta nada, na vida privada, usar das expressões mais vulgares e não possuir nenhuma preocupação estética na construção das próprias frases que emite, mas exigir de governantes e autoridades que falem como lordes ingleses. Isto é hipocrisia.

Uma sociedade que incentiva o pudor linguístico público, inexistente em seus círculos íntimos, faz de seus cidadãos facilmente manipuláveis. Basta surgir um engravatado, falando suave, afável e educadamente, que todo mundo acha que tem o dever de respeitá-lo. Assim, quem quer foder a vida das pessoas sabe que só precisa aprender a falar bonito.

Exaltar demais a polidez na expressão faz da pessoa como uma donzela iludida, que prefere a doce voz do canalha ao jeito grosseiro do sincero. Gente assim se incomoda com a maneira de falar mais contundente de homens como Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub, mas se submete a psicopatas como Lenin, Stalin, Mao e Fidel, que, ao mesmo tempo que tiranizavam multidões, sabiam se expressar graciosamente e demonstrar cortesia.

Vamos ser sinceros? A sensibilidade em relação à linguagem alheia geralmente é só jogo de cena; é apenas uma maneira de se fingir civilizado enquanto, junto aos familiares, amigos e colegas de trabalho, age e fala como um selvagem.