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Insubstituível

Para quê você veio para este mundo se não para ser único? Independentemente de suas qualidades e defeitos você é irrepetível. Nem gêmeos são absolutamente iguais.

Portanto, há uma história para ser contada – a sua história.

Mas as pessoas são tão inseguras quanto a si mesmas, quanto ao seu real valor, que precisam sempre procurar saber o que os outros estão produzindo para copiá-los. Parece que só sabem o que fazer depois de ter certeza do que os outros estão fazendo. Tornam-se meras réplicas das narrativas alheias.

Vivem olhando para os lados, mas quem anda olhando para os lados acaba com a cara no poste.

Isso é um desperdício!

O fato de você ser irrepetível torna-lhe potencialmente apto a oferecer algo que ninguém mais pode oferecer. E resignar-se em não desenvolver isso é um pecado que se comete contra a existência.

Quem apenas duplica, nada de novo oferece. E como alguém pode sentir-se minimamente realizado vivendo a história do outro, agindo como o outro, sendo como a sombra do outro?

A verdade é que o único exercício que realmente importa é o exercício da auto-descoberta. É o esforço para entender quem somos e quais são nossas características mais peculiares. É mergulhar dentro do nosso próprio ser e compreender o que nos faz únicos e insubstituíveis.

Todo o resto é apenas acessório.

Motivações incompreensíveis

Uma das constatações mais fascinantes que a teoria das doze camadas da personalidade, do professor Olavo de Carvalho, faz é a de que as motivações que podem conduzir alguém que se encontra em uma camada superior é completamente incompreensível para quem se encontra em uma camada inferior.

Isso é fascinante porque explica muita coisa do que observamos de nossa vida em comunidade. Como quando, em uma sociedade onde a maioria das pessoas só entende as ações e expressões como resultados de interesses políticos, aquelas que agem movidas por motivações superiores não são compreendidas.

Se o que leva um indivíduo que se encontra em uma camada superior da personalidade a agir é completamente incompreensível para as pessoas que se encontram em uma camada inferior, as motivações dele são colocadas em dúvida e julgadas como cortinas de fumaça para ocultar interesses mesquinhos.

E se na sociedade a quase totalidade de seus membros não amadurece além da camada da personalidade onde o que importa é obter reconhecimento pessoal e ser feliz, agir baseado em motivações típicas de camadas superiores, torna a pessoa não apenas excêntrica, mas suspeita.

Sempre foi assim e, não por acaso, santos e heróis costumam ter um fim trágico, geralmente pelas mãos de quem, primeiro, não os compreendeu para, depois, considerá-los uma ameaça.

Os papéis sociais e a fragmentação da personalidade

O exercício dos papéis sociais exige alguma fragmentação. Muitas vezes, precisamos assumir funções e atividades que não são totalmente compatíveis com nossas personalidades e interesses. Isso, obviamente, causa tensões e pode gerar algum tipo de frustração. No entanto, dizer que se deve negar essa fragmentação é algo muito simplista. Ela, geralmente, é uma imposição da realidade social e fingir que ela não existe pode ser mais prejudicial do que seria aceitá-la.

Assumi-la plenamente, porém, também não é uma atitude saudável. Quem faz isso, não se torna muito diferente de um esquizofrênico, que cria diversas máscaras a fim de apresentar-se para os outros conforme as necessidades e as circunstâncias.

O certo é que a melhor maneira de lidar com essa fragmentação inexorável é vivenciá-la com inteligência e consciência, jamais deixando-se absorver por ela, mas, pelo contrário, tendo o pleno controle a partir sua própria personalidade unificada.

O importante é não permitir que esses papéis sociais assumam o lugar da personalidade real e se confundam com ela. O fato é que se alguém pretende manter a sanidade deve viver seus papéis sociais não como se fossem outras expressões de si, nem como outras personalidade, mas como roupas que se vestem, que não negam quem somos e apenas servem como instrumentos para que se possa transitar no meio social com mais desenvoltura.

A personalidade é única, as formas que ela pode usar para se manifestar, múltiplas. O erro ocorre quando confunde-se as duas coisas e as formas assumem ares de personalidade.

A personalidade sempre pode usar de formas específicas para manifestar-se. O que a personalidade não deve esquecer é de quem ela é e não deve jamais permitir que qualquer papel social se torne, de alguma maneira, um substituto para ela.