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Os fantasmas do poder

Políticos brasileiros têm medo de armas, principalmente quando elas se encontram nas mãos da população de bem. Deve ser por um instinto de auto-proteção, claro. Afinal, se tem alguém que eles desagradam, este é o trabalhador, o pai de família, o empreendedor. Tal pavor, porém, serve para uma coisa: mostrar como, para os políticos, a sociedade civil se restringe a um grupo muito específico, e pequeno.

Só de imaginar a possibilidade do porte de armas ser liberado paras as pessoas comuns, homens públicos, de toda estirpe, têm vindo à mídia para dizer uma mentira e uma outra mentira, mas que é verdade para eles. Explico: já ouvi algumas vezes, da boca desses senhores, que o Estatuto do Desarmamento ajudou a diminuir a violência. Diante disso, fico pensando: se mais de 70 mil mortes por ano é diminuição da violência, então este país, antes, estava em guerra civil? Bom, esta é uma pequena ironia, diante da mentira descarada. Na verdade, os índices de criminalidade só crescem e, tenho certeza, o desarmamento da população civil contribui com isso.

A outra mentira é ainda mais canalha, mas, pelo menos, tem uma explicação. Eles dizem, na maior cara-de-pau, que o Estatuto do Desarmamento foi um conquista da sociedade civil, após muitos debates e discussões. Eles só esquecem de dizer que, antes dele, por meio de um plebiscito, esta mesma sociedade decidiu, por ampla maioria, que o povo não deveria ser desarmado.

Então, os políticos, simplesmente, estão mentindo? O pior é que não! É que, para eles, a sociedade é composta não pelas pessoas ordinárias, aquelas mesmas que você encontra em seu dia-a-dia, no trabalho, na faculdade, comendo pastel na esquina. Sociedade, para políticos, se restringe apenas aos grupos organizados, que, ao mesmo tempo que fazem pressão para ter suas demandas atendidas, são financiados pelo governo. Neste sentido, portanto, estão certíssimos ao dizer que o Estatuto do Desarmamento foi uma conquista da sociedade civil. Só lamentamos que essa sociedade não seja a nossa.

O fato é que a sociedade composta pela pessoas normais, que vivem para o trabalho e para a família, que produzem e pagam impostos, é um problema para os políticos. Estes têm muitos intentos e muitos planos de ação, mas a população atrapalha-os, invariavelmente. Quando se reúnem em seus gabinetes, quando se juntam para intentar seus conchavos, logo eles se deparam com um obstáculo incômodo: como aprovar o que querem, sabendo que isso vai de encontro à vontade popular.

É certo que, normalmente, uma lei que beneficie, de fato, a sociedade, de alguma maneira, prejudicará o governo. No fundo, a regra é esta: saber quem ganha, o povo ou o príncipe. E sempre que uma lei é promulgada, alguém perde: o indivíduo, o empresário, o pai de família, o trabalhador, o proprietário ou seja lá quem for. Quem nunca perde é o governo. A arte política, portanto, se resume a encontrar meios de criar normas que beneficiem o poder, mas fazendo, nisto, o povo acreditar que tudo está acontecendo em seu favor. É a política da ilusão!

O que é decidido no planalto e no Congresso reflete a vontade de seus próprios membros e dos grupos que os sustentam. A verdadeira sociedade não faz parte disso. No Brasil, não vivemos uma democracia representativa, mas uma aristocracia eleita. A cada pleito, o povo é convocado para, democraticamente, escolher os seus senhores.

Passadas as eleições, o que se forma é um cartel de interesses que, no máximo, brigam entre si, mas que não refletem, em nada, as verdadeiras demandas da sociedade. E os políticos agem exatamente de acordo com essa realidade. Observe seus discursos e perceba como suas falas são direcionadas para os outros políticos ou para os grupos organizados. Nunca falam com você, comigo, com a tia Albertina.

Portanto, quando ouvir políticos discursando, não pense que são mentirosos, apenas. Na verdade, eles vivem em uma dimensão completamente apartada da sua. São meros fantasmas, espíritos vagantes que não cansam de assombrar os outros. E estes outros, obviamente, somos nós!

Os parlamentares petistas e a lei anti-terrorismo

O Senado brasileiro está para votar o projeto da chamada lei anti-terrorismo. Seu texto é uma resposta a uma pressão internacional, que, de alguma maneira, exige que os países tenham regras eficazes para combater o terror. O objetivo é, principalmente, que esses países não sirvam de lugar propício para abrigar organizações terroristas que os usem como quartel-general para coordenar atos de violência no restante do mundo e como via para lavagem de dinheiro.

Por ainda não ter aprovado essa lei, o Brasil sofre o risco de sofrer sanções e é esta a principal preocupação de alguns componentes do governo. No entanto, há outros atores políticos que estão preocupados com o contrário e suas razões não são tão simplórias, nem tão virtuosas como se espera.

Na verdade, os senadores governistas não querem a aprovação da lei simplesmente porque sabem que isso tornaria a punição para os crimes, costumeiramente cometidos por alguns chamados movimentos sociais, mais rígida. Isso quer dizer que a base do governo no senado quer, de maneira bem clara, proteger os criminosos do MST e de outras organizações que agridem o bem alheio.

Essa defesa indiscriminada do banditismo social está bem caracterizada na fala do parlamentar, que foi símbolo do movimento dos caras-pintadas e, naquela época, dizia lutar pela ética e justiça, Lindbergh Farias, do PT. Ele afirma, com um argumento bem canalha, que o projeto não pode ser aprovado porque “depredar um ônibus, ocupar uma reitoria, invadir uma propriedade rural são manifestações que já possuem sua punição e a pessoa é presa por isso. Com a nova proposta, isso se torna terrorismo”.

A lógica de Farias é muito significativa por revelar o tipo de caráter com o qual estamos lidando quando nos deparamos com um esquerdista. Segundo ele, uma lei que endurece a punição contra atos violentos, como depredações, ocupações e invasões não é bem vinda. Ou seja: ele tenta, de toda maneira, proteger os praticantes desses atos, como se fossem pequenos delinquentes, como se fossem ladrões de galinhas.

Ocorre que a lógica do parlamentar é de uma obviedade impressionante e usá-la para defender os movimentos sociais apenas manifesta seu desespero. Isso porque se para tudo se seguisse seu raciocínio qualquer legislação que visasse o endurecimento de penas sobre crimes mais violentos ficaria inviabilizada. Até porque a lei anti-terrorismo não visa punir qualquer ato lícito, nem pequenos delitos, mas apenas aquilo que já é crime! E crime sério! Então, é óbvio, que os atos que ela pretende abarcar já possuem punição específica na legislação atual. Seria estranho se não houvesse! O que a lei busca é o endurecimento ao combate contra esses crimes. Usar a existência prévia de punição como argumento para não endurecer a pena sobre eles, além de ser um argumento estúpido, demonstra a ânsia dos petistas por proteger seus bandidos preferidos.

Na verdade, o que os petistas estão fazendo é tentar assegurar que os movimentos criminosos, que há décadas servem de sustentação para o partido, continuem atuando sem que sofram uma punição de acordo com a gravidade de seus atos. De fato, grupos como o MST são como o braço armado do PT e este tem um compromisso quase declarado de protegê-los a todo custo.

A lei anti-terror possui pontos questionáveis, é verdade. Pode-se até se discutir qual a verdadeira intenção dos grupos internacionais ao tentar impô-la sobre os países. No entanto, o que ninguém pode negar é que a esquerda brasileira não está preocupada com nada além de permitir que aqueles que são como seus sovietes tenham liberdade para atuar de maneira a servirem como sua força armada, quando necessário.