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Busca pela Verdade

A busca pela verdade é uma vocação. Isso fica evidente quando vemos que algumas pessoas, simplesmente, não se incomodam em passar os seus dias sem compreender nada, enquanto outras – as realmente vocacionadas – são despertadas para deixar a ilusão das sombras da ignorância em direção à luz do conhecimento.

Os obstáculos, porém, que se apresentam para aqueles que se dispõem a isso são muitos. A preguiça, o medo do que se pode encontrar pela frente, a insegurança em relação às próprias capacidades e mesmo a natureza humana, com seus impulsos e instintos, são os inimigos internos que trabalham no sentido de afastar a pessoa da busca pelo conhecimento. Há ainda os obstáculos exteriores que se apresentam para desviar a pessoa de seu trajeto em direção à verdade, como as necessidades materiais mais urgentes, o sustento da família, a falta de tempo e, ainda, a incompreensão de amigos e familiares, que não entendem essa dedicação a algo impalpável.

Não por acaso, muitos concluem que a ignorância acaba sendo até uma bênção e é muito comum algumas pessoas desistirem no meio do caminho, achando que o esforço que se exige nessa empreitada é muito grande. Nisso, talentos acabam desperdiçados e vidas que possuíam a potência da inteligência, ao invés de florescerem, murcham na mediocridade de uma vida sem entendimento.

O fato é que, para que a existência se abra, revelando alguns de seus segredos, exige-se um comprometimento firme com ela, o que reclama a disposição por lançar-se nas fontes de conhecimento com todas as forças, estando ciente que será preciso abrir mão de tudo aquilo que pode desviar a pessoa desse caminho. Por causa disso, é inescapável entregar-se por inteiro. Afinal, como dizia Sertillanges, a verdade só está a serviço de seus escravos.

No entanto, para o impulso em direção à luz da verdade, é preciso que haja um incômodo com uma existência mergulhada na estultice e o temor de viver uma vida sem nenhum sentido. E isso nem é suficiente, muitas vezes. É preciso algo mais. Algo como um espanto, como dizia Aristóteles, capaz de despertar a pessoa de sua letargia interior.

Esse espanto, porém, não virá apenas da perseguição dos bons resultados; nem da necessidade de fama e reconhecimento; nem mesmo da vontade de poder. O único motivador infalível acaba sendo aquele momento da vida quando a pessoa se depara com a necessidade de tornar-se alguém melhor, de crescer, de amadurecer. Somente quando ela percebe que sua evolução pessoal é vital para si e para os outros que a compreensão da realidade transforma-se, para ela, em algo indispensável.

Agitação e Interioridade

Quem já teve dificuldade para dormir, por causa de algum problema que estava passando, tendo ficado com os olhos abertos, enquanto os pensamentos cavalgavam selvagemente dentro de si, entende bem o que quer dizer “conseguir colocar a cabeça no travesseiro”.

Nessa sentença popular, está embutida uma verdade universal: o quanto à noite, e o seu silêncio, pode trazer à tona os fantasmas interiores. É naquele momento, que deveria se de paz e descanso, que os elementos da fantasia (os fantasmas) resolvem aparecer e aterrorizar.

Esses fantasmas se aproveitam da ausência de dispersões, da falta de imagens, sons e sensações, que, durante o dia, ocupam espaço na mente das pessoas, e assombram-nas, perturbando a tranquilidade delas.

Depois que o cansaço vence o terror e o sono vem, a manhã surge como um alívio. Na verdade, os sons do dia e a movimentação do cotidiano acabam servindo como refúgio, que afasta aqueles provocadores noturnos.

Eu nunca entendi muito bem o gosto pela algazarra e pela multidão. No entanto, essa preferência pode ser explicada pelo fato da agitação sobrepor a interioridade. O barulho e toda a ebulição diária faz sair de si mesmo – de onde habitam os fantasmas – e permite seguir em paz, entretido com todo o passatempo costumeiro.

O burburinho do dia-a-dia serve para aplacar a consciência e possibilita viver o sossego da irreflexão.

Assim, se existe uma atração pela balbúrdia e pela aglomeração, nada explica melhor esse gosto do que a necessidade de exilar-se de si mesmo.