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Mudanças elitistas

Grandes mudanças civilizacionais geralmente são concebidas por poderosos. Pessoas comuns estão preocupadas em viver suas próprias vidas. São os poderosos que acham que podem e devem definir o destino dos outros.

O engraçado é que esses poderosos têm tudo o que desejam, possuem autoridade e riquezas em abundância e, ainda assim, querem convencer-nos de que estão insatisfeitos com a situação atual do mundo.

Os poderosos, então, propõem as grandes mudanças globais, apresentam-se obviamente como os administradores dessas mudanças e querem fazer acreditar que isso é para o bem de todos. Mas será que existe alguém que crê que eles propõem essas mudanças com a intenção de dividir seu poder e suas riquezas?

Claro que não! Toda vez que a sociedade sofreu mudanças radicais, a elite tornou-se mais poderosa, enquanto as pessoas comuns pagaram a conta, sofrendo todo tipo de privações e cerceamentos.

Por isso, mudanças radicais na sociedade sempre são um passo em direção ao totalitarismo.

A elite nunca se dá mal quando há revoluções, exceto quando ela é substituída por uma outra elite. O povo, esse sempre se fode.

Portanto, não confie em mudanças radicais, principalmente aquelas propostas pelos poderosos. Elas são uma mera desculpa para lhe aprisionar ainda mais.

Destruição do passado

Revoltosos conclamam a destruição de símbolos públicos como forma de romper com o passado, o qual consideram um erro a ser esquecido. Hoje, derrubam estátuas, mas já vínham arrancando cruzes. No fim, querem simplesmente apagar a história a marretadas, para que sobrevivam, nas mentalidades atuais, apenas suas ideias revolucionárias.

A iconoclastia não é novidade na história. Sempre existiram grupos, principalmente de cunho religioso e ideológico, que a praticaram. Um dos exemplos mais icônicos e atuais foi a Revolução Cultural chinesa que não apenas destruiu os símbolos do passado, mas decidiu mandar para o além os próprios representantes humanos desses símbolos.

No entanto, o orgulho daqueles que se propõem a apagar o passado denota uma falta de visão histórica, típica de quem vive se aproveitando das benesses da contemporaneidade como se elas fossem uma dádiva divina concedida magicamente às mentes da presente geração.

Iconoclastas não entendem que todas as conquistas do presente trazem embutidas dentro de si todos os erros e acertos do passado, sem os quais não existiriam. Esses erros e acertos são como células que compõem o corpo atualmente existente; como genes dos quais não é possível se livrar. Cada passo dado anteriormente é como um degrau em uma escada e a retirada de qualquer um desses degraus faz ruir tudo o que estiver acima deles.

A sociedade, como os indivíduos, é o resultado de suas próprias experiências. Sem estas, não seríamos o que somos. Se há alguma justiça, alguma consciência, alguma compreensão da realidade, isso deve-se a tudo o que já se experimentou, de bom e de ruim, de certo e de errado.

Nas sociedades, como nos indivíduos, quando os erros do passado são reprimidos, cria-se uma neurose. E uma das características mais marcantes do neurótico é tentar esconder violentamente o passado, ocultando-o desesperadamente de seu campo de consciência.

Preservar o passado não significa reconhecer que tudo o que ocorreu é digno de louvor, mas é fato que o passado não pode ser apagado. Pelo contrário, ele deve estar lá para lembrarmos do caminho que trilhamos até chegarmos onde estamos.

A sociedade normal entende a importância de compreender o passado naturalmente. Tanto que Hitler é provavelmente o personagem moderno mais estudado entre todos. No entanto, revolucionários não costumam ser normais e acreditam que podem, sem custo algum, jogar a história na fornalha de Orwell.

Ingênua revolução

Os americanos viveram muito tempo isolados em sua prosperidade. Com isso, perderam de vista a desgraça da miséria anticapitalista e focaram apenas nos problemas de sua própria sociedade.

Isso alimentou um certo ressentimento na juventude americana, que, ao constatar a desigualdade típica de seu mundo de competição, começou a abrir seus ouvidos para o caquético discurso socialista, tonando-se presa fácil da proposta utópica do comunismo.

Toda a confusão que se dá agora na América não passa de uma mobilização, patrocinada por decrépitas raposas ideológicas, de jovens almas alimentadas com um ressentimento pelo país que as mimou de maneira incomparável na história e que agora se revoltam contra ele porque acreditam que tudo o que dele receberam não é suficiente.

Esses jovens que estão nas ruas, fomentados por ilusões igualitárias, acreditam que podem destruir, de uma hora para outra, o estilo de vida de seus pais e implantar um novo sistema social. Com toda a inocência de crianças superprotegidas, calçando seus tênis Nike e vestindo suas jaquetas Tommy Hilfiger, perambulam desvairados, vandalizando, saqueando, agredindo e até matando, crendo poder começar assim uma nova sociedade.

O problema é que esses jovens não sabem o que estão fazendo. Suas vidas sãos marcadas essencialmente por uma artificialidade monstruosa. O que sua sociedade lhes deu de conforto, lhes tirou de compreensão da realidade. Em geral, eles não têm a mínima ideia do que é o mundo, senão pelas lentes embaçadas do estilo de vida de uma América que já conheceram próspera, ainda que decadente.

E como não existe sistema social e político sem defeitos, podendo apenas a comparação com outros sistemas existentes ou possíveis determinar qual deles é o mais tolerável, essa miopia da juventude americana torna-a inapta para qualquer julgamento minimamente realista do mundo onde vive. Tanto que, se ela aprendesse a ver o que existe fora de sua bolha de proteção, entenderia rapidamente que, ainda que seu mundo não seja perfeito, o que existe além dele tende a ser muito pior.

No fim das contas, essa pretensa nova revolução americana nada mais é do que a excitação de jovens mimados e ociosos, alimentada por um discurso retrógrado de velhos agitadores, fazendo eclodir uma balbúrdia desvairada, mas destinada a arrefecer, como acontece com todo tipo de euforia.