Ser simplório até parece uma virtude. Temos simpatia por quem parece viver apenas na trivialidade. Nutrimos certo apreço por aqueles que sabem pouco e tratamo-los como puros; vemo-los como ingênuos.

Por outro lado, o homem de erudição é tratado com desconfiança. Quem demonstra possuir algum conhecimento acima do necessário para a sobrevivência não demora a ser tido por arrogante. Saber mais do que o vulgo parece uma pretensão. Quem arrisca-se a isso logo é acusado de não ser simples.

Possuímos uma cultura da frivolidade. Talvez pelas nossas raízes cristãs, inclusive. Afinal, “felizes são os pobres de espírito”.

Mas há uma certa confusão aí. É que ser simples não é ser simplório.

A simplicidade, aliás, não é um estado natural, que se possui por inação. O que eu quero dizer é que ninguém torna-se simples por não fazer nada. A inação faz da pessoa simplória, e isso não tem nada de virtuoso.

Ser simplório é estar destituído dos elementos de conhecimento que lhe permitem compreender melhor a vida e agir de uma maneira mais inteligente nela. É uma falta, portanto; uma deficiência.

Ninguém deveria se orgulhar de ser simplório e este não deveria ser objeto de nosso louvor.

Já a simplicidade é uma conquista. Só consegue ser simples quem, compreendendo a complexidade da existência e seus elementos, sabe selecionar apenas aquilo que é importante e permanecer nisso.

Por isso, a simplicidade é também uma virtude. Porque, para alcança-la, além do entendimento que é necessário ter, para saber distinguir o essencial do dispensável, ainda é preciso reunir força moral para decidir por ela.

O simples é aquele que vive o que realmente importa. Deus é simples. O homem nunca é totalmente simples, mas deve ter a simplicidade como um norte. Quanto mais se aproxima dela, mais nobre se torna.

O simplório, por outro lado, é apenas um preguiçoso. Sua aparente simplicidade é só carência do que é importante. Ele tem pouco, mas o pouco que tem não tem valor algum.

Seja simples, portanto. Nunca simplório.