A culpa é um algoz e muitos cristãos, mesmo tendo a arma mais eficaz contra ela, insistem em cultivá-la.

No medievo, pairava sobre o bom cristão a culpa por não agir de acordo com um modelo ideal. O religioso da Idade Média era atormentado por não ser capaz de agradar a Deus; de agir segundo seus preceitos.

O humanismo reformado prometeu acabar com isso, e tinha tudo para fazê-lo. Com sua perspectiva voltada para a necessidade apenas da fé para a salvação, a consequência deveria ter sido a remoção definitiva da culpa.

Mas como parece que a mente religiosa precisa de um acusador permanente, os protestantes inventaram a culpa por ação. Se não mais valia culpar-se por ter deixado de fazer algo, a ideia passou a ser culpar-se pelo que fazia, pelos pecados que cometia.

Assim, o cristão, sempre tendo a sua disposição o que lhe livra do peso da culpa – a saber, elas sendo carregadas pelo seu Deus crucificado – insiste em ignorar isso e continua punindo-se como se nada houvesse acontecido.