Qualquer aluno ginasial que aprende Filosofia entende que uma conclusão deve ser o resultado das premissas usadas. Se não o for, é certo que quem está efetuando a operação lógica tem problemas de raciocínio ou está tentando enganar as pessoas. No caso do jornalismo brasileiro, mesmo sabendo que a erudição não é o ponto forte da maioria de seus componentes, tenho convicção que a segunda hipótese reflete muito mais o que acontece.

Um exemplo gritante está nesta matéria, que tem como fonte o jornal Estado de São Paulo, e que se espalhou pela internet, onde o título informa o leitor que a auditoria que o PSDB fez nas urnas eletrônicas concluiu que não houve fraude no pleito eleitoral de 2014, deixando, para aqueles que costumam ler apenas os títulos da matéria, a plena convicção da lisura do sistema de votos brasileiro.

Ocorre que, basta passar os olhos na redação do texto para verificar que o título, que deveria ser uma síntese do que nele está contido, não reflete o que realmente aconteceu. Isso porque ele transmite duas informações fundamentais sobre a auditoria feita pelo PSDB: a) a de que os auditores concluíram que, em relação à fraude, os resultados são inconclusivos; b) e que as urnas eletrônicas não permitem uma auditagem completa.

Qualquer pessoa que saiba ler verifica, diante da matéria, principalmente sem a influência do título, que os auditores não chegaram à conclusão de que não houve fraude. Pelo contrário, eles chegaram à clara conclusão de que é impossível dizer se houve fraude. Entre isto e o título apresentado há uma distância muito grande.

O que o jornalista que publicou a matéria pretende? Seria ele uma analfabeto funcional? Bom, analisando sua escrita, não me parece isso. Então, fica claro que o título escolhido só pode ter uma função: criar uma realidade que engane o leitor. Isso quer dizer que trata-se de uma fraude completa. O jornalista, e quem mais colaborou para tal publicação, é responsável por uma mentira deliberada, feita com o único intuito de enganar os próprios leitores.

O que talvez ele não perceba, mas que está contido na matéria, é que a auditoria do PSDB acabou concluindo, mesmo sem saber, que o sistema de votos brasileiro não é confiável e muito menos democrático. Se a urna eletrônica não é completamente auditável, isso obviamente significa que ela não presta para uso em eleições. Até porque, como eu já escrevi em outro momento, não basta para uma democracia que suas eleições sejam declaradas justas, mas todo o sistema deve ser passível de auditoria para que haja, também, uma sensação de justiça e segurança que legitime o pleito. Se as urnas não podem ser auditadas, isso significa que as eleições são, no mínimo, suspeitas e, certamente, anuláveis. Será tão difícil entender isso?

É isso o que ocorre no Brasil e ainda que, no relatório final, os auditores digam que não houve fraude, os motivos para uma conclusão desta não existem. Na verdade, o que eles apuraram permite apenas duas conclusões, as quais aproveito para oferecê-las, como título, ao jornal: 1) Auditores do PSDB concluem que urnas eletrônicas não são auditáveis; 2) Auditoria do PSDB conclui que urnas eletrônicas não são confiáveis.

Escolham o melhor!