É proibido ter dúvidas. Seja qual for o meio do qual façamos parte – negócios, intelectualidade, religião – parece que a incerteza é condenável.
Aprendemos que o sucesso é para os que não titubeiam, a verdade daqueles que possuem uma convicção inabalável.
Demonstre um mínimo de indecisão e será tachado de fraco, incrédulo, burro.
Somos todos humanos, mas o que esperam de nós é uma qualidade sobre-humana. Querem que sejamos aquilo que a nossa natureza não consegue ser.
Nosso estado natural é sempre vacilante, porque ser assim faz parte da nossa estrutura e das nossas possibilidades.
O que caracteriza a mente normal são as dúvidas, os conflitos, o vacilo. Só os loucos não duvidam de nada, só os psicopatas não hesitam.
Por isso, toda afetação de certeza absoluta, de segurança inabalável, só pode ser fingimento ou alienação.
Nós não podemos saber tudo, nem ter certeza de tudo. Cada pensamento, cada ato, cada palavra dita, vêm carregados de indefinições e obscuridades e mistérios que nos dão a única opção de esperar que um dia se resolvam.
Assim, resta-nos seguir em frente aprendendo a conviver com essas limitações.
Aliás, esta é a grande arte do ser humano: desenvolver a capacidade de erigir suas obras sobre terreno movediço.
Bem haja a dúvida cartesiana: duviduo logo existo.