A grande vantagem de envelhecer é ter tido a oportunidade de errar e com esses erros aprender. A vida nos ensina, por causa das consequências dos nossos atos, principalmente aqueles com efeitos mais dolorosos, que aquilo que fizemos pode nos servir como mestre eficiente.

Essa sabedoria oriunda da dor jamais deveria ser desprezada. Ela é uma fonte inesgotável de conhecimento, especialmente daquele conhecimento que não se encontra nos livros e que mantém o mundo funcionando.

Quando essa sabedoria pela vivência junta-se àquela oriunda da cultura e da instrução, o idoso, pode-se dizer, tem a possibilidade de experimentar o ápice de sua existência. Para aqueles que se enriqueceram com uma larga cultura, as alegrias da vida multiplicam-se com os anos – afirma Payot, que confessava que, para ele, sua velhice foi um tempo mais doce que o de sua juventude.

No momento quando nosso corpo já não responde à nossa vontade é que o nosso espírito tem a chance de atingir seu estado mais agudo. Uma pessoa que amadurece devidamente, que sabe aproveitar bem o que passou em sua vida, tem a oportunidade de atingir um estágio no qual sua inteligência pode ser capaz de discernir melhor as coisas.

Por isso, os velhos deveriam ser a referência dos mais jovens. Pelo menos, aqueles velhos que atingiram a última fase da existência com alguma sabedoria. Eles deveriam ser consultados por quem ainda não teve a chance de experimentar muita coisa na vida; deveriam ser vistos como o repositório da experiência e a fonte dos bons conselhos. Numa sociedade saudável, cada idoso seria tratado como o ponto de contato entre a geração ativa e o conhecimento universal.

No entanto, nosso tempo é daqueles que perderam a conexão com tudo o que não tem a ver diretamente com ele. Seu único interesse são os interesses do momento. O passado é desprezado como relíquia curiosa, daquelas que só servem para ser apreciadas como símbolo de um mundo que não existe mais.

Sob essa perspectiva, o idoso acaba visto como alguém que já não serve para muita coisa. Com exceção dos pouco agraciados com oportunidade e disposição para participar ainda da vida produtiva, os outros são tratados como gente que pertence a uma era que ficou para trás e, por isso, não têm mais nada a contribuir. São quase como mortos-vivos, caminhando por aí, como pesos para uma sociedade que só tem olhos para si mesma.

Uma comunidade que esquece de seus velhos, tratando-os apenas como um peso incômodo digno da mesma compaixão que se tem aos cães, a quem dão comida, remédios e uma cama para dormir, não enxergando neles nada que se possa extrair, é uma sociedade prisioneira do imediato, abandonada à sua própria estupidez; refém de erros evitáveis; condenada a cometer as mesmas falhas, as quais poderiam ser evitadas se ouvissem aqueles que já as cometeram antes.

O desprezo à velhice é um pecado, típico das gerações arrogantes a partir do século XX. O pior é que isso parece não ter mais volta, pois as pessoas costumam perceber a importância da sabedoria amadurecida somente quando deixam de ser jovens, quando elas mesmas já começam a ingressar no rol daqueles que serão tidos por obsoletos. E quando chega nesse ponto, é tarde demais.