O homem está só, ainda que ande em meio à multidão; vive isolado, ainda que tenha contato com mais gente como nunca se teve na história; está perdido, mesmo instalado numa era em que a informação parece infinita. Este é o paradoxo da contemporaneidade e se manifesta na sensação de isolamento daquele que vive em aglomerados, que se associa a movimentos de massa e que tem acesso livre ao mundo inteiro.
Essa solidão moderna, porém, não é daquelas que existem nos que se encontram fisicamente longe dos outros; nem tampouco daquelas que invadem o espírito de quem se sente incompreendido em sua maneira de enxergar a vida. Trata-se de uma solidão existencial, que insiste em sufocar a alma de gente que vive com os outros, pensa como os outros, age como os outros e praticamente não possui nada que lhe distingua deles.
Era de se esperar que pessoas que se misturam à multidão, seguem os padrões culturais e da moda e se empenham para pensar segundo os ditames da ideologia do momento até sofressem de crise de identidade e de sentido, mas não que se sentissem sós. Se elas se esforçam por se ajustar às expectativas sociais é porque querem pertencer, querem evitar frustrar as expectativas da sociedade e, em consequência, perder as vias de acesso abertas por ela. No entanto, parece que quanto mais tentam fazer parte do grupo, mais sozinhas se sentem; quanto mais parecidas com o mundo, mais são ignoradas por ele; quanto mais imitam os padrões culturais, mais deslocadas parecem; quanto mais se acoplam, menos ajustadas se mostram.
Os homens se gabam da evolução de sua autoconsciência, mas há algo que, apesar dela, os tem impedido de escaparem de si mesmos. Parece que estão encarcerados dentro de suas próprias almas, ainda que seus corpos interajam com todo o resto. De fato, não conseguem libertar-se de sua escuridão interior e a única realização efetiva que a autoconsciência alcançou foi o clarividência de sua própria solidão.