O solitário contemporâneo não é silencioso e melancólico. Pelo contrário, seu ambiente é rico de possibilidades, está sempre cercado por gente, sempre ocupado. Vive em meio a festas, encontros sociais, eventos, movimentos coletivos e todo tipo de associação. Pode-se dizer ─ por mais contraditório que pareça ─ que o solitário contemporâneo é alegre e disposto à realização.
Mas que tipo de solidão é essa que exteriormente se mostra ativa e festiva? É uma solidão que se manifesta somente nos intervalos da vida, quando todo o barulho da jornada e as ocupações do dia dão uma trégua. É uma solidão que foge de si mesma através de relação epidérmica com o mundo, buscando abrigo no burburinho, no riso fácil e nas conversas descartáveis.
O que a realidade mostra, porém, é que, apesar de toda a interação social, os homens estão encerrados dentro de si mesmos, olhando o mundo exterior como que por um periscópio. Estão trancafiados em suas próprias convicções, fechados em suas perspectivas pessoais, sufocados na limitação de seu mundo interno.
Ainda assim, a maior parte do tempo, sentem-se satisfeitos, pois esquecem sua realidade claustrofóbica ao manter-se em movimento junto com o mundo. No entanto, naqueles poucos momentos, quando parece que o universo exterior dá um descanso, começam a ouvir a voz que vem de dentro e percebem que estão sozinhos.
Esses momentos de silêncio aterrorizam-nos porque neles fica evidente que aquele movimento externo era fugaz, que o contato que se mantinha com o que há de fora era fátuo. No silêncio, fica muito claro que não restam muitas convicções que se sustentam, nem verdades que se podem dizer seguras. Percebe-se, principalmente, que o indivíduo fora deixado abandonado a si mesmo e que ele não é capaz de vencer sozinho esse insulamento.
Por isso, a única alternativa que esses homens existencialmente solitários têm é a de render-se à algazarra cotidiana. Pelo menos, assim, podem ter a ilusão de não estarem sós.