Não costumo planejar com muitos detalhes as leituras que pretendo fazer. Apenas sigo alguma intuição e deixo as circunstâncias me guiarem.
Até aqui, isso tem dado certo.
Para muitos dos meus amigos, porém, essa é uma estratégia aterrorizante, pois, na cabeça deles, um plano de leitura deve ser linear, logicamente arquitetado, com a previsão exata dos livros a serem lidos. Alguns deles ─ acreditem! ─ já sabem o que vão ler até o fim das suas vidas.
Porém, o que eu vejo nessa forma tão rígida de encarar os estudos é apenas uma pretensão de quem se esquece de que é apenas um ser humano limitado e volúvel e não uma máquina aglutinadora de dados, capaz de seguir exatamente aquilo para o que foi programada, ignorando completamente a volatilidade das circunstâncias.
A vida humana não é linear e precisamos nos lembrar disso. Sendo assim, a evolução, inclusive das coisas do espírito, não se dá de maneira tão previsível ─ como alguns desejariam ─, mas segue um processo bem mais orgânico, o que torna tudo muito dinâmico e, ao mesmo tempo, imponderável.
O próprio conhecimento, que é um reflexo da vida, não se dá pelo mero acúmulo dos dados colhidos, mas é o resultado de um processo que exige a colaboração de incontáveis aspectos, que estão além daquilo que lemos e ouvimos, mas envolvem tudo aquilo que experimentamos, sentimos e vivenciamos e que, de uma maneira inidentificável e irrastreável, compõem o nosso espírito.
Somos voláteis e, com o tempo, muita coisa muda em nós: o imaginário, a visão de mundo, as perspectivas, os interesses, os objetivos, as convicções ─ como, então, não mudar aquilo que foi planejado?
Por isso, uma vida intelectual que represente uma verdadeira evolução exige releituras, alterações de rotas, mudanças de perspectivas e mesmo sem abandonos ─ tudo aquilo que um planejamento inflexível pretende evitar.
Esse é o motivo porque eu não planejo minhas leituras. Prefiro que elas acompanhem a aleatoriedade da minha existência. Quem, porém, preferir a previsibilidade, que se lembre que um plano de estudos que pretenda ser a base para um amadurecimento intelectual precisa ser maleável o suficiente para se conciliar com a dinâmica da vida.