Quando uma pessoa descobre uma verdade e conta para outras, espera que elas a recebam com naturalidade e alegria. Afinal, quem não quer conhecer a verdade?
No entanto, ela não demora a descobrir que as pessoas não são tão receptivas a verdades que lhes são ditas.
Isso porque o que é óbvio para alguém não necessariamente será óbvio para todo mundo; a mesma luz que brilha diante dos olhos de um pode muito bem ofuscar os olhos dos outros.
Na Alegoria da Caverna, Sócrates explica isso ao contar sobre um homem recém-liberto das trevas da caverna que, após deparar-se, pela primeira vez, com a luz do sol, tomado de compaixão pelos antigos companheiros de escuridão, retorna até eles para contar-lhes a novidade. No entanto, nesse trajeto de retorno, já não mais adaptado ao breu, impossibilitado de enxergar qualquer coisa com distinção, age de maneira desajeitada e esquisita, provocando, nos moradores da caverna, estranheza e medo. Tomados, então, de pavor, os prisioneiros lançam-se contra o portador da mensagem, expulsando-o violentamente.
Aprendemos com essa narrativa que a mensagem da verdade, muitas vezes, em vez de ser recebida com alegria, pode despertar estranheza nos ignorantes.
Quantas pessoas, ao tentar explicar para seus amigos e familiares algo daquilo que descobriram, não foram tratadas como excêntricas, loucas e até perigosas?
Isso acontece porque quem se depara com a verdade já não pensa mais com as mesmas categorias de pensamento de antes. Sua mensagem encontra-se, agora, num patamar superior, fundamentada em uma consciência desperta, o que pode soar, para aqueles que permanecem na ignorância, como algo totalmente sem sentido.
No entanto, o principal motivo para essa reação violenta tem muito menos a ver com a discordância em relação ao que está sendo dito do que com o medo de deparar-se com algo completamente fora do seu universo de consciência.
Quem fala a verdade, portanto, arrisca-se sempre a ser incompreendido e tem grandes chances de sofrer represálias por tal audácia.
Este é o preço que a verdade cobra: ser visto como um estranho mesmo por aqueles que, até ontem, pareciam estar ao seu lado.