Chaim Perelman, conhecido por seus estudos sobre argumentação, foi um defensor do diálogo. Forjado intelectualmente nos período do pós-Guerra e testemunha do mal perpetrado pelo pensamento absolutista das ideologias, acreditava na potência humana de implementar o diálogo e chegar a soluções razoáveis.

Por causa disso, muitos de seus comentadores e admiradores têm-no como um expoente da tolerância. Enxergam nele um baluarte da compreensão e até um símbolo da luta contra o autoritarismo dogmático.

Sinceramente, eu não sei dizer se Perelman pode realmente ser considerado tudo isso. Não que ele não acreditasse no poder da argumentação para resolver conflitos. Apenas não sei dizer se ele desenvolveu sua teoria pensando nela como uma arma exequível da disputa política.

Seus escritos sobre argumentação são, antes de tudo, teóricos. São ensinamentos de como é possível, idealmente, desenvolver o raciocínio e apresentar as razões de maneira lógica e persuasiva.

É certo que havia ali a crença de que se todos os envolvidos em um discussão seguissem os princípios apresentados por ele poderiam chegar a conclusões razoáveis. Porém, isso não significa que ele acreditasse que esses princípios poderiam ser colocados, o tempo todo, em prática.

Na verdade, Perelman seria muito ingênuo se acreditasse que sua teoria da argumentação poderia ser usada imediatamente na política. Como a própria teoria informa, para que ela pudesse ser aplicada, seria necessário que as partes estivessem de acordo quanto aos termos e aos objetivos do que estivesse em discussão. Além disso, pressupõe que todos os participantes do diálogo estivessem nele de boa-fé.

Porém, em política, dificilmente há diálogo, mas disputa; boa-fé quase nunca. Sem contar as guerras de narrativas e mentiras criadas deliberadamente para enganar e submeter o adversário. Se Perelman não levasse isso em conta e esperasse que, na política, todos os envolvidos estivessem em busca do razoável, poderia ser considerado uma das pessoas mais tolas que já existiu.

Por isso, não acredito que Perelman não percebesse essa realidade. Entendo apenas que seu objetivo era outro: mais teórico; mais acadêmico. O que o pensador polonês apresentou foi, na verdade, um caminho que, se fosse seguido pelas pessoas, poderia conduzi-las à concórdia e à tolerância. Porém, como toda ideia, sabia que ela, em princípio, era apenas uma teoria. E toda teoria, quando se depara com as tensões da vida real, serve, no máximo, como norte.