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Tradição e mudanças

Será que as pessoas não percebem que muitos dos valores tradicionais de hoje foram tidos por vanguardistas em tempos atrás? O próprio cristianismo foi considerado subversivo dentro da sociedade romana; o catolicismo inverteu a ordem social do império; o protestantismo foi um movimento revolucionário; e aquilo que se pratica dentro da maioria dos templos evangélicos mais tradicionais foi considerado escandaloso aos olhos de suas primeiras testemunhas.

Há um erro muito óbvio que boa parte das pessoas comete: entender a tradição e os costumes como valores absolutos. Com isso, fecham-se para experiências novas e possibilidades de mudanças. Fecham-se assim para o aperfeiçoamento. Tornam-se retrógrados, apenas.

No entanto, quase tudo que hoje é tido por tradicional foi vanguardista em determinado tempo; aquilo que é visto como habitual já foi, alguma vez, insólito.

Isso faz parte do movimento da sociedade. Sendo ela dinâmica, está sujeita a mudanças constantes. Assim, só alguém muito obtuso para não entender que conservar as coisas como são há muito tempo não é um valor em si mesmo. Da mesma maneira que não o é querer mudar as coisas leviana e apressadamente, apenas pelo desejo da mudança.

O que se mantém desde o passado pode continuar sendo bom, mas obviamente isso depende das circunstâncias. Há situações nas quais os vinhos novos não podem mais ser colocados em odres velhos.

O fato é que mesmo as coisas mais tradicionais podem mudar, ainda que gradativamente e quando necessário. Afinal, se os valores antigos fossem sempre os melhores, viveríamos ainda na idade das cavernas.

Tradição e instinto

É comum ver gente inteligente criticando a forma como assimilamos as tradições, tentando dar a entender que, ao fazermos isso, estamos agindo sem pensar, apenas repetindo padrões já determinados. Há até um vídeo, bastante conhecido, que mostra uns macaquinhos agindo dessa maneira. Acreditam assim que estão levando seus ouvintes a defender a razão.

Não entendem, porém, que a razão humana não é algo que existe sem uma causa e que ela é também parte de um desenvolvimento e, nesse prisma, só existe como fruto das tradições e dos costumes. Sem eles, com efeito, seríamos apenas instinto e, consequentemente, não haveria razão alguma para defender.

Por isso, quando alguém, ao criticar o conhecimento herdado, pensa estar reivindicando liberdade, na verdade está promovendo o exato oposto dela: o cárcere da irracionalidade.