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Tímidos lamentos

Um ato, como o de terrorismo da esquerda chilena, queimando duas igrejas, diante dos olhos atônitos do mundo, merecia uma reação firme, verbal e física.

No entanto, o que vi foram manifestações tíbias, reclamações discretas e uma indignação quase velada. Inclusive, da própria cúpula católica.

Quando Nietzsche dizia que o cristianismo criava um homem fraco, talvez ele tivesse alguma razão, se concedermos a ele a desculpa de estar se baseando nos cristãos de seu tempo, os tempos modernos.

O cristianismo que o filósofo alemão testemunhara já não era o dos mártires, dos medievais, nem dos templários, mas um cristianismo pacifista, puritano, quase rococó; era um cristianismo rendido ao seu tempo, infectado pelo pensamento moderno e subserviente às novas ideologias.

De lá para cá, tudo isso apenas se aprofundou. O que sobrou do cristianismo neste novo mundo foi um pacifismo medroso, uma inação que beira à cumplicidade e um temor de ser mal visto que gera uma covardia abjeta.

Podem queimar mil igrejas e, ainda assim, os novos cristãos vão achar que fazer algo mais do que expressar tímidos lamentos é agir em desacordo com sua fé.

Acusadores e covardes

Não me interessa nem um pouco os pecados alheios. Sinceramente, nem os meus. Pelo menos, não os pecados pontuais. Aqueles nos quais, invariavelmente, nos vemos enredados. Aqueles pecados cotidianos que caímos, nos arrependemos, mas acabamos caindo de novo, simplesmente porque fazem parte das tentações cotidianas e aparentemente inofensivas que nos cercam.

Quer dizer, então, que os pecados são irrelevantes?

Obviamente que não! Mas o maior problema não é a queda ocasional neles, mas sua defesa obstinada, o orgulho que alguns têm em praticá-los.

Eu posso ter infinita paciência com quem mente de vez em quando, mas nenhuma com quem se vangloria de levar vantagem com a mentira. Posso entender alguém que cede relutantemente ao vício, mas não aceito quem o promove como uma virtude. Consigo até ter infinita compreensão com os que cometem pecados sexuais, mas não me peçam para aceitar as ideias de seus apologistas.

E digo isso porque já cansei de ver gente gastando bastante energia criticando quem comete os mais diversos pecados, acusando-os sem piedade, até perseguindo-os moralmente, mas calando-se seriamente diante dos promotores desses mesmos pecados. ‪São violentos contra os cometedores ocasionais de pecados, mas extremamente covardes em relação aos seus grandes propugnadores. ‬

É fácil apontar o erro do drogado, sem dizer nada sobre os defensores teóricos da droga; criticar a menina que engravida cedo, sem mostrar quem são aqueles que passam o dia promovendo a sexualização infantil; achar ruim o menino se dizer homossexual, mas fingir que não existe um movimento em prol da homossexualização dos rapazes; falar mal da garota que pensa em abortar, mas dizer que a ideia de que há um grande morticínio patrocinado por abortistas é teoria da conspiração.

Para deixar mais clara a minha ideia, vou propor-lhes uma alternativa à tão repetida frase “odeie o pecado, mas ame o pecador”: seria “seja mais misericordioso em relação à prática dos pecados, mas implacável contra a defesa deles”.

Obsessão pelo meio-termo

Há uma ânsia, principalmente nos meios mais intelectualizados, de, diante de um assunto qualquer, tentar colocar-se sempre numa posição mais ponderada. Abundam os opinadores que buscam parecer moderados, equilibrados, portadores do mais absoluto bom senso. Ninguém quer parecer radical, ser visto como um extremista.

É verdade que o pensamento grego dizia que a virtude se encontra no meio-termo. E esses senhores inteligentes costumam apoiar-se nisso para se apresentarem como os donos da ponderação. O problema é que a atitude que eles tomam, de obsessivamente amenizar qualquer opinião, acreditando que, com isso, serão os representantes da prudência, está longe do que propunha a sabedoria antiga.

O meio-termo não pode ser o resultado de um cálculo ético. Ele não é achado, como muitos pensam. Na verdade, o meio-termo é imediatamente identificado. Por isso, é uma referência. Não se calcula a coragem, nem se aquilata a temperança, nem se mesura o amor.

Os extremos, estes sim, são medidos a partir da referência que o meio-termo oferece. Tem-se o que é certo e, identificado este, vislumbra-se suas extrapolações, o exagero, por um lado, e a deficiência, por outro. Se, por exemplo, a coragem é imediatamente identificada, a imprudência é aferida a partir dela. O mesmo acontece com a covardia. Isso quer dizer que só é possível saber que alguém é imprudente ou covarde porque temos uma idéia clara do que é ter coragem. E se temos uma idéia clara é porque ela é algo estável, fixo, imediatamente percebido.

Por isso, não pode haver uma busca obsessiva pelo meio-termo. Quem tenta, o tempo todo, encontrá-lo, acaba caindo, invariavelmente, em algum de seus extremos. É isso o que acontece com aquelas pessoas que têm medo de parecer radicais. Constantemente, acabam agindo de maneira covarde, ao aplacar atitudes que são realmente corajosas.

Agredir um estuprador, de maneira violenta, quando este tenta consumir seu ato, é o correto a ser feito. O obcecado por ponderação, porém, é capaz de achar que a via da persuasão talvez seja, neste caso, a atitude mais acertada a se tomar, aplicando a doutrina do meio-termo. Assim, enquanto a vítima é possuída, pode ele, pelo menos, gabar-se de ter tentado ser equilibrado. Se a coitada saiu machucada… Bom! Isso, o moderado vai dizer, já não é culpa dele.

Extremamente covardes

Por detrás de quase todos os críticos do extremismo residem extremos covardes, que temem se comprometer com algo e querem ter sempre à disposição a possibilidade de escapar.

Ao atacarem o que chamam de extremismo, na verdade, estão criticando a convicção. Isso porque não suportam pessoas que sabem no que acreditam e defendem isso até o fim. Para os frouxos facilmente escandalizáveis, toda demonstração de certeza é uma agressão.

Até porque nem sempre a moderação é uma virtude. A moderação da verdade, do bem, da justiça, por exemplo, não pode ser tida como um objetivo a ser perseguido.

O extremismo que deve ser criticado é apenas aquele alcançado sem reflexão, sem prova, sem razão. O extremo, em si mesmo, não é errado, mas estar nele de maneira leviana e obtusa.

Se porém uma convicção é atingida após ter sido devidamente provada, que mal há em permanecer ali de maneira extrema?

Por isso, eu nunca me pergunto se alguém está sendo radical, extremista ou coisa do gênero. Minha única indagação é: o que ele defende é certo?