Se dispor a ensinar Teologia, de maneira livre, sem vinculações com doutrinas denominacionais específicas, mas baseado no estudo dos grandes pensadores, de todos os tempos, e na análise responsável das Escrituras, é um grande desafio. Faço isso já há alguns anos e, ainda que os resultados tenham sido os melhores, sempre há a dificuldade inicial de transpor a barreira da perspectiva própria de cada vertente cristã.

Normalmente, acontece assim: após o susto inicial, quando o aluno demonstra evidente estranheza com muito daquilo que está sendo ensinado, ele começa a entender que o meu objetivo não é apresentar uma doutrina, mas refletir sobre a verdade cristã, dentro do possível, como quem observa desde fora a construção doutrinária.

Meu objetivo, na verdade, é fazer com que o aluno entenda as razões que conduziram a determinado entendimento. Isso baseado no fato de que nenhuma doutrina surge do nada, mas da revelação, passando pela racionalização humana e pela interpretação inescapável. Mesmo a Tradição católica não tira seus dogmas do nada, mas suas doutrinas possuem uma rígida construção racional por detrás delas.

Essa forma de estudo, entendo eu, forja no aluno uma mente cristã fortalecida. Ao compreender as razões da fé, ele estará não apenas repetindo ensinamentos que recebeu das devidas autoridades, mas estará criando, dentro de si mesmo, uma consciência da verdade, que é mais importante e mais duradoura do que qualquer submissão.

A obediência é boa. Porém, obedecer, sabendo os motivos para tanto, é muito melhor.

De qualquer forma, sempre é um desafio ensinar Teologia dessa maneira, porque as pessoas não apenas têm convicções doutrinárias, mas desenvolvem uma afeição com a fé que professam que, cada vez que algo é dito que, mesmo que de forma meramente aparente, vá de encontro aos preceitos de sua denominação, é despertada nelas um senso de defesa apologética que, muitas vezes, as cega para razões coerentes que podem servir para esclarecer dúvidas.

Falar algo que pareça contrariar uma verdade estabelecida em seus corações é como agredi-las, como provocá-las. Por isso, apenas um aluno amadurecido, preparado para mergulhar nas verdades cristãs sem medo é que aproveita melhor o estudo. Por outro lado, aqueles que colocam sua afeição à frente da razão acabam não compreendendo bem o que está sendo ministrado.

Quem me acompanha sabe que, como professor, não tenho preferências doutrinárias. Tento estudar e entender todas e concluir quais me parecem mais compatíveis e coerentes com a revelação. Fazendo isso, eu sei que me arrisco a angariar antipatias de todos os lados, mesmo de vertentes cristãs antagônicas.

De qualquer forma, os alunos mais inteligentes, aqueles que realmente estão em busca de uma compreensão mais profunda da verdade cristã, conseguem entender meu método e aproveitam para, eles mesmos, mergulharem até o mais fundo possível do conhecimento cristão.