Por trás do mito adâmico encontra-se uma verdade perene e um símbolo que representa a própria condição humana. Nele, surge o pecado original do homem, motivo pelo qual foi colocado para fora do Paraíso. Mas qual, de fato, teria sido esse pecado e o que ele representa?
Tradicionalmente, pensa-se no pecado original como um mero ato de desobediência humana: ter tomado do fruto da árvore do conhecimento ─ atitude que lhe havia sido expressamente proibida.
No entanto, por trás dessa simbologia, encontra-se uma decisão muito mais séria do que fazer algo proibido; encontra-se uma rebelião autocastradora.
Muitos teólogos interpretam que o pecado de Adão seria a pretensão de conhecer (comer da árvore do conhecimento) além do permitido por Deus. Isso não pode estar certo. Os homens foram criados como seres pensantes, autoconscientes. Seria um contrassenso considerar um erro o desejo de expansão da própria consciência, ou seja, a necessidade de agir de acordo com a própria natureza.
A verdade é que o pecado original não foi um movimento de expansão, mas de limitação. O erro de Adão foi abrir mão da transcendência, fechar-se para o céu e negar a condução divina em seu processo de amadurecimento – até porque o projeto sempre foi o desenvolvimento humano, entretanto, sob a tutoria divina.
O pecado original tratou-se de uma autolimitação insanável, um autoaprisionamento em uma esfera inferior da realidade, fomentado pela pretensão do homem de pensar por si mesmo, de conhecer por si mesmo, de descobrir as verdades por si mesmo, contando apenas com suas próprias percepções e sentidos. Com isso, fez-se prisioneiro da matéria.
Desde então, os homens, agora senhores (conhecedores do bem e do mal) de seu próprio domínio (material), passaram a tentar compreender tudo dentro dessa esfera da realidade.
A partir daí, a história do pensamento configurou-se em entender cada vez mais o mundo inferior, ao mesmo tempo em que compreendia menos a totalidade da realidade.