A culpa é um sentimento universal. Desde que o sujeito não seja um psicopata, haverá em sua história pessoal fatos que, se ele pudesse, reescreveria de maneira diferente. Não há, como a geração pós-freudiana tem preferido acreditar, um estado ideal de completa indiferença a todo tipo de culpa. Independente da fé religiosa e da cultura, sempre haverá atos e palavras que, se fosse possível, seriam refeitas na vida das pessoas. Não há ninguém são que não se arrependa de algo em sua própria história e, de alguma maneira, não seja incomodado por esse erro.

Sendo assim, todos, de certa forma, precisam encontrar meios de lidar com essa culpa. A psiquê humana é muito criativa ao fazer isso. Por isso, o homem sempre encontra um jeito de tornar a culpa suportável. Se não o fizer, o suicídio é provável.

Então, há aqueles que negam os erros, encontrando racionalizações que os justifiquem. Há, ainda, os que, mesmo assumindo as falhas, racionalizam no sentido de justificá-las em favor de um bem futuro, transformando um erro em uma possibilidade. Outros, de uma maneira menos sutil, meramente esforçam-se por apagar os erros cometidos da memória, para que o esquecimento leve consigo a culpa.

Todas essas formas e outras que a mente humana é capaz de criar simplesmente não enfrentam o problema da culpa, mas tentam substitui-la por algo que tenha a pretensão de sufocá-la somente.

Como o personagem Dorian Gray, de Oscar Wilde, que, atormentado pelo peso de sua vida corrupta e seus erros, acredita que pode libertar-se dessa culpa apagando os rastros materiais de seus crimes. Como se uma alma corrompida pudesse ser limpa pelo olvido.

Na verdade, o que não havia em Dorian Gray, como em muitas pessoas que justificam seus pecados das maneiras mais criativas, é a confiança que seus erros poderiam ser realmente apagados. Como o personagem de Wilde, como bons filhos dos séculos científicos, que se não esquecem de Deus, o afastam dos negócios humanos, os homens não confiam mais que há uma misericórdia divina disponível que lança “todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq 7.19).

Nesta geração, a culpa jamais é extinguida. Ela pode ser sufocada, esquecida, negada, mas sempre estará à espreita, como uma víbora cornuda (Gn 49.17), esperando o momento para dar o bote.

Por isso, a solução cristã é a única possibilidade de redenção humana, porque é a única que alia o alívio da culpa com o arrependimento. É a única também que permite uma participação humana efetiva e consciente nessa redenção. Isso porque o que Deus oferece para o homem não é apenas ter seus pecados apagados, mas a oportunidade desse homem retomar sua vida, dando a ela um novo rumo, uma nova história, um novo sentido.


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