O pior inimigo para empreender uma vida intelectual séria são as preocupações mundanas. No entanto, no meu caso, que a vida intelectual está intrinsecamente ligada ao meu ganha-pão, é impossível se abster de preocupar-se como ganhar dinheiro, afinal, o sustento de minha família depende diretamente do que eu faço.

Nisso, eu preciso tomar muito cuidado para não cair em algo muito perigoso: que é o empreendimento intelectual visando, precipuamente, o ganho financeiro. Se eu fizer isso, posso até conseguir algum rendimento, mas, certamente, a obra, em si, estará prejudicada.

Quando eu falo que a atividade que escolhi para a minha vida era algo que estava identificado com minha própria personalidade é porque eu sabia que, nem sempre, ela me renderia os frutos financeiros desejados. E quando isso acontece, se eu estivesse visando principalmente o dinheiro, a tentação para corromper-me com um trabalho raso, mas com maiores chances de rentabilidade, seriam muito grandes.

Estando porém identificado com meu trabalho, de maneira que ele seja a extensão de mim mesmo, o reflexo de quem eu sou, ainda que, às vezes – confesso, seja tentado a entregar-me à lógica do mercado de oferecer menos, ganhando mais, não consigo ceder a isso, pois seria uma traição não apenas a quem recebe aquilo que faço, mas a mim mesmo.

Quem trabalha com aquilo que acredita suporta tudo!