Se eu pudesse destacar uma característica da espiritualidade moderna, não seria nenhum tipo de misticismo irracional, nem a busca por elementos tranquilizadores. O que caracteriza os religiosos de nosso tempo é a necessidade extrema de compreender tudo. O religioso contemporâneo tem horror ao mistério, ao incerto, ao que ele não pode prever. É por isso, por exemplo, que o espiritismo tem tantos adeptos, pois ele pretende explicar tudo. E mesmo aquelas manifestações religiosas que aparentam ser mais irracionais contêm esse mesmo elemento de previsibilidade, pois ainda que, em seus atos mais cotidianos, digam deixar-se levar pela atuação imprevisível do espírito, não suportam dizer que não entendem porque as coisas aconteceram de determinada maneira e não aceitam, de forma alguma, que qualquer situação humana, mesmo as mais trágicas, fiquem sem uma resposta definitiva, nem que seja: “Deus quis assim”.

Chesterton, em seu livro Ortodoxia, ressaltou a importância para a sanidade de aprender a viver entre o que se sabe e o misterioso. Tudo o que for aquém ou além disso é prenúncio de um certo tipo de desequilíbrio. Eu mesmo, em minha vida, aprendi, não a resignar-me de que as coisas são desse ou daquele jeito, mas admitir que não poderia compreendê-las todas. Principalmente aquelas que me pareciam mais absurdas, aceitei que, para manter-me são, precisaria deixar sua compreensão em suspenso, aguardando que algum dia, por misericórdia divina, eu pudesse entendê-las.