A comunicação, por definição, pressupõe que entre o emissor e o interlocutor existe algo comum. Ela seria impossível, inclusive, se não houvesse isso. Se cada pessoa vivesse em seu próprio mundo, com suas próprias definições e com suas próprias percepções, seríamos todos autistas e, certamente, não haveria a civilização como a conhecemos.

Ainda assim, a ideia de verdade absoluta foi rejeitada. Falar dela tornou-se anátema em um mundo absolutamente relativista. Dizer que existe algo que é imutável, que todos deveriam reconhecer, na mentalidade de hoje é ser intolerante.

Com isso, o que cada pessoa carrega é a sua própria verdade. Uma verdade íntima, pessoal, personalizada. Uma verdade tirada de não sei onde, pois, se não há uma verdade última, a convicção de cada um só pode ter saído de suas próprias entranhas.

O que vemos é um multidão de gente fechada em sua própria visão de mundo, com suas próprias certezas e arredia a qualquer ideia de universalidade. Todo mundo batendo no peito e dizendo: “Está é a minha verdade”.

Claro que tudo isso em nome da tolerância e da diversidade. Porém, com a absoluta convicção de que qualquer ideia de absoluto é intolerável.

Essa gente não vê que esse negócio de “a verdade de cada um” não existe. O que cada um possui não é a sua verdade, mas a sua versão dela.

Será que é tão difícil entender que, para que haja o mínimo de convivência e o mínimo de comunicação, é necessário que existam realidades compartilhadas e reconhecidas por todos? Mais ainda: que para se construir uma sociedade tão complexa como a nossa esses pontos em comum têm de ser a maior parte das nossas vidas? Que o que há de divergência são variações personalizadas de uma mesma coisa é que é por isso que ainda é possível discutir sobre o assunto?

Existe uma verdade, sim, que todo mundo compartilha. E ela é invariável, perene e absoluta. Ela é a fonte onde todos bebem. Alguns acham que não bebem, mas estes são como o idiota que só porque a água que toma vem do filtro, acha que ela foi criada pela empresa que fez o filtro.

A questão não é apenas que existe algo comum, mas que este comum é quase tudo em nossa vida. Aquelas opiniões pessoais, as convicções íntimas, as visões de mundo idiossincráticas são, no máximo, perspectivas em relação àquilo que compartilhamos.

O fato é que aquele que nega a verdade absoluta não é louco, apenas burro. Pois até o lunático depende das verdades comuns para formatar suas fantasias.