Pierre Lecomte du Noüy inicia seu livro, O Homem e seu Destino, afirmando que há, para o homem, dois caminhos: o da razão e o da revelação, sendo que este seria como um caminho direto, para poucos, e, apesar de considerá-lo superior, seria algo independente da razão. O autor, com isso, acaba por tratar a revelação como uma via esotérica e, certamente, gnóstica.
Muitos cristãos, por seu lado, costumam cometer esse mesmo tipo de equívoco. Não é difícil testemunhar o tratamento que dão à revelação como algo que sobrepuja a razão. Para eles, a revelação é como uma abertura imediata ao conhecimento das realidades superiores, fazendo com que o homem, como que por um salto, saísse da ignorância para o conhecimento da verdade.
O que não percebem, é que esta é uma visão essencialmente gnóstica. O gnosticismo privilegia o acesso direto às verdades superiores, seja por meio de fórmulas, ritos ou experiências místicas. O cristianismo, porém, jamais ensinou isso.
A revelação cristã se baseia no conhecimento humano para, a partir dele, conduzir o homem a verdades superiores. Por isso Cristo usava parábolas e Deus ofereceu visões. De qualquer forma, umas e outras ensinavam sobre realidades superiores, mas usando dos elementos conhecidos.
Na verdade, a revelação cristã é progressiva, pois ensina conforme o estágio humano de conhecimento. É por isso que as Escrituras dizem que Cristo se revelou na plenitude dos tempos. Naquele momento, o conhecimento acumulado dos homens permitia a compreensão da identidade do Messias.
Não há, portanto, no cristianismo, o desprezo da razão. Pelo contrário, ele se apresenta na presunção de sua existência, estimulando-a e conduzindo-a, de forma que a verdade seja progressivamente compreendida.
Os saltos às verdades superiores não existem. O homem apenas pode conhecer a verdade pelo acúmulo das informações e a correta interpretação delas. O que a revelação faz é apenas apresentar novas informações que seriam impossíveis de serem conhecidas sem ela, mas que, mesmo assim, só podem ser compreendidas se houver um prévio entendimento de seus significados.