Mesmo entre os cristãos, não é fácil encontrar quem tenha uma visão clara sobre o sentido de sua própria vida. E não estou falando apenas de uma sensação de completude ou de realização que possa preencher o coração de uma pessoa. Me refiro a algo mais racional mesmo, como a consciência do que todos nós estamos fazendo neste mundo e também o que deve fundamentar nossos próximos passos.

E se isso é assim só pode ser por um distanciamento dos alicerces que sustentam o pensamento cristão e sua visão de mundo. Por não entender, ou mesmo não saber, o que é o cristianismo, qual sua proposta e o que ele oferece ao homem, muitos cristãos simplesmente não conseguem enxergar suas vidas, com suas demandas presentes, plenamente envolvidas em uma perspectiva cristã.

Se não está claro o que somos e qual é o nosso destino, nosso caminhar neste mundo torna-se incerto, vacilante. Se não sabemos as razões da nossa existência, não haverá como escapar da desilusão. Todo o niilismo e toda revolta é fruto da perda desse contato com os fundamentos, com aquilo que explicava para cada um quem ele era e o que ele estava fazendo por aqui.

Mas o cristianismo se tornou, na cabeça de boa parte de seus seguidores, apenas uma manifestação religiosa. Ele perdeu o status de definidor da verdade para apenas uma alternativa para corações ansiosos. A verdade cristã não é mais a verdade única, mas apenas uma das verdades possíveis.

O problema é que o cristianismo visto dessa maneira se torna incapaz de oferecer o sentido que a alma humana anseia. Ao invés de ser o Paedagogus, como pensava Clemente de Alexandria, ele representa apenas a religião provedora do conforto imediato, porém incapaz de sustentar o homem em sua percepção de sua própria dimensão eterna.

Por isso, entre os cristãos manifesta-se duas atitudes que revelam sua incompreensão da verdade cristã em sua inteireza: o desapego do presente, como se a proposta divina fosse apenas de um mundo pós-morte, sendo este aqui apenas um peso que cada um deve carregar temporariamente ou, então, uma entrega às questões seculares, como se o cristianismo, sendo apenas religião, não tivesse interesse nos problemas do mundo e fosse algo para ser praticado apenas em ambiente privado, dentro das igrejas e, no máximo, dentro de casa.

O que é perceptível é que mesmo nas fileiras cristãs, cada vez menos pessoas conseguem compreender que o cristianismo é uma proposta divina para o homem e a entrega para ele não apenas da explicação da existência, mas da solução para ela. Estão, de fato, quase todos, perambulando por aí, de igreja em igreja, de reunião em reunião, de pastor em em pastor, de padre em padre, tentando encontrar algo que nem mesmo eles sabem o que é.

O que mais vejo hoje são cristãos em busca de sentido. E mal eles sabem que o sentido já foi dado a eles. Basta entenderem!