O politicamente correto é uma força coercitiva que sufoca, não apenas aqueles que arriscam-se em palavras mais audaciosas, mas a todos que temem ser enquadrados como intolerantes na sociedade. Mesmo alguém que não tenha o costume de expor opiniões heterodoxas sofre com a necessidade de parecer correto e de não cair em algum tipo de manifestação que possa ser tida por preconceituosa.

Quantos, ao verem alguém que consideram suspeito, não pensam duas vezes antes de atravessar a rua ou mudar de caminho, perguntando-se se tal atitude não configuraria preconceito? Quantos não ficam tentados a dizer que uma pessoa feia é bonita, apenas para não parecer que estão agindo com discriminação?

O fato é que as pessoas de hoje em dia estão sentindo-se pressionadas a rejeitar suas percepções e gostos, apenas para se encaixar nas regras do politicamente correto.

E essa coação velada acaba gerando culpa em quem sequer deveria se preocupar com isso.

Foi o caso, por exemplo, de minha esposa, que após ter sido assaltada algumas vezes e até mantida em cárcere privado, obviamente desenvolveu uma sensibilidade mais aguçada em relação a tipos e atitudes suspeitas. Se estamos em uma lanchonete, restaurante ou lugar parecido, basta entrar alguém que ela considere ter as características de um bandido para sua atenção se voltar para o sujeito. Ora! Nada mais justo para quem já fora vítima desse tipo de gente.

No entanto, em sua cabeça, essa atitude começou a gerar uma preocupação extra: a da possibilidade dela estar sendo preconceituosa. Com isso, logo ela começou a se questionar se sua atitude não era discriminatória e racista.

Contudo, bastou uma experiência que propus para que sua preocupação sumisse.

Estávamos na lanchonete de um posto de gasolina e ela viu entrar dois rapazes que tinham todo o jeito desses bandidinhos batedores de carteira. No fim, não eram, mas ela não deixou de atentar para a atitude deles, ficando em paz somente quando foram embora. Passados quinze minutos entra um outro rapaz, negro (enquanto os meninos de antes eram levemente pardos) e senta duas mesas atrás de nós. Deixei passar uns dois minutos e então perguntei para ela se não havia alguém dentro daquela lanchonete que ela consideraria suspeito. Sem titubear, passou o olho por todo o ambiente e aliviada disse que não. Foi então que mostrei o rapaz atrás de nós, o qual ela sequer havia percebido. Mostrei com ele estava decentemente arrumado, em uma atitude nada suspeita e provei para ela que, mesmo ele sendo negro, não havia despertado nenhum tipo de incômodo. Provei, portanto, que o problema não estava na cor da pele, mas na atitude, na vestimenta, no jeito das pessoas.

O que eu digo é que se alguém não quer ser confundido com bandido, melhor é não agir como tal, não se vestir com tal e não falar como tal. Já quem vive a vida como um cidadão comum, independente da cor da pele, em geral, não precisa se preocupar com isso.