Em outros tempos, os inteligentes eram os contestadores. Lembro-me de como se valorizava a pessoa não conformada e que não se rendia às imposições do sistema. Hoje, parece que as coisas mudaram.

Gente bem instruída tem defendido que existem coisas óbvias demais para serem contestadas. Não se engane! Elas não estão se referindo a Deus ou a algum absoluto metafísico, mas a questões naturalmente discutíveis, como experiências científicas, interesses financeiros e jogos políticos.

São pessoas educadas, que têm aceitado – quando não instigado – a censura prévia daqueles que ousam questionar algumas certezas que não parecem certas o suficiente.

Não satisfeitas, acusam os questionadores de obtusos. Afinal, para os censores, há realidades evidentes demais para que se permita levantar dúvidas sobre elas.

No entanto, nada é óbvio para quem olha com atenção.

Somente uma pessoa inteligente é capaz de duvidar. Isso porque apenas alguém com o imaginário expandido tem condições de antever possibilidades, percebendo as diferentes formas como o objeto observado pode se manifestar.

Os inteligentes percebem que aquilo que se manifesta de uma maneira pode também se manifestar de outras. Por isso, para eles, não é que o óbvio não exista, mas se trata de exceção. Observe o mundo, tente identificar o indubitável e verá que quase nada se encaixa nessa definição.

Por isso, a dúvida, sendo necessária para quem pretende enxergar além das aparências, longe de ser uma característica de ignorantes, é, na verdade, um indício de sabedoria. Somente a pratica quem não tem ainda a mente cativa.

Não estou falando dos paranoicos que, por falta de capacidade de discernimento, criam uma realidade alternativa para onde não param de olhar e de onde tiram todas as explicações. Estes não duvidam de nada. Apenas trocam uma certeza pela outra.

Falo, sim, da importância de se preservar o direito de duvidar. Este que é um exercício típico de todos os grandes pensadores que, não conformados às certezas desta vida, ousaram levantar sua voz para desafiá-las.

Sem a dúvida não há ciência, nem evolução. Somente ela pode tirar a humanidade de suas certezas estacionárias e permitir seu amadurecimento. Quando não se permite duvidar, resta apenas a opressão das certezas fabricadas.