Jamais alie-se a alguém apenas pelo seu discurso. Nunca apoie um político por causa de suas palavras. Usar a linguagem, na forma e no conteúdo, para cooptar apoiadores é a arte da política e o instrumento preferido dos psicopatas.

Um psicopata consegue defender, tranquilamente, uma ideia hoje e outra contrária amanhã, com a mesma veemência e coerência. Quem o escuta, se não toma as devidas precauções, acaba persuadido. Afinal, exteriormente, suas falas possuem todos os elementos estéticos que confirmariam sua veracidade, sinceridade e honestidade.

Em geral, as pessoas não são treinadas para separar linguagem e realidade e, por isso, não vislumbram o caráter simbólico das palavras, confundindo-as com a coisa-em-si. Quando ouvem alguém falando qualquer coisa, têm dificuldade de abstrair o discurso, de enxergá-lo como meras expressões vocais, meros sopros que saem da boca do falante. Se ouvem alguém defendendo a pátria, já tomam-no por patriota; se o escutam xingando comunistas, têm-no por direitista; se a pessoa fala de Deus, recebem-no como crente. Por causa disso, são facilmente enganáveis.

Gente comum fica estupefata quando testemunha alguém fazendo um discurso completamente inverso do anterior, com a mesma convicção e energia. Em sua lógica simples, duas coisas contrárias não podem coexistir. Nisso, confunde a linguagem com a realidade, que são entidades de categorias diferentes.

A coerência no discurso só existe por escrúpulo, não por qualquer dificuldade real. Manter a coerência é uma atitude psicológica, de quem sofre com a culpa por não conseguir ser incoerente. No entanto, psicopatas não sentem culpa e, boa parte deles, está na política. Por isso, parar de ouvi-los e, principalmente, de acreditar neles, é a coisa mais inteligente – e profilática – a se fazer.