Quem já tentou ler Kant, Lavelle, Homero, Camilo Castelo Branco, Padre Vieira, entre outros, sabe o esforço de atenção, o conhecimento linguístico e a bagagem cultural necessários para compreender o que esses mestres do pensamento e do estilo escrevem. Não são leituras fáceis. Podem tornar-se torturantes, na verdade.

Diversas vezes comecei a ler livros difíceis e abandonei-os. Por algum motivo, decidi, naquele momento, que o esforço não valia a pena ou, simplesmente, que eu não estava capacitado para absorver o escrito. Voltei aos textos que continham uma expressão mais familiar.

Permanecer nos livros fáceis é uma atitude comum. Ainda mais quando se acredita que o mero ato de ler já é edificante por si mesmo. Então, mantem-se na escrita trivial, na narrativa óbvia, no texto simples. Encontra-se um nível confortável de leitura, no qual não se exige esforço e a compreensão é imediata.

O problema é que a receita para formar ignorantes letrados é exatamente estimulá-los a ler muitos livros facilmente compreendidos, que não representem nenhum desafio cognitivo para o leitor – e o mundo da cultura é tomado por gente deste tipo.

Um livro difícil põe o leitor em contato com o que não é imediatamente identificado, exige esforço dele, força-o a superar seus limites linguísticos e culturais. É preciso atenção para ler um livro difícil e isso treina quem lê a manter-se com foco no texto. No fim das contas, um livro difícil requer do leitor sair da sua zona de conforto intelectual e, por isso, eleva-o.

Há muitas razões para não se aventurar em uma leitura mais complexa: tempo, cansaço, prioridades… No entanto, a recompensa por quem se arrisca nela nenhum livreto popular pode oferecer: a chance de elevar-se a um patamar intelectual superior.