Erros e mentiras são como fogo em rastilhos de pólvora: espalham-se rapidamente. Por isso, decidi recolher-me e lhe aconselho a fazer o mesmo.

Eu sei que temos a necessidade – que parece boba, apesar de real – de estar a par de tudo o que acontece. Isto impulsiona-nos a buscar as fontes de informações de nossas preferências.

Como não temos acessos aos dados originais, aos fatos brutos, precisamos deixar que outros digam para nós o que é verdade.

O problema é que superestimamos a credibilidade dessas fontes.

A verdade é que essas fontes de informações estão constantemente enganadas: por partidarismo, por má-fé, por falta de técnica, por afobação ou por imprudência.

No entanto, as histórias, frutos de seus erros, costumam disseminar-se com muito mais facilidade do que a própria realidade.

É que a realidade está sujeita a todo tipo de incongruências. Os fatos reais não costumam fazer muito sentido, à primeira vista. Os seres humanos são contraditórios e essa contradição reflete-se em seus atos. Assim, custamos acreditar que as coisas são como elas realmente são.

As narrativas criadas, por outro lado, tendem a fazer mais sentido. Como elas não estão sujeitas às instabilidades da realidade das intenções humanas, podem parecer muito mais coerentes. Preferimo-las, por isso.

E como é da estrutura da nossa natureza acreditar, por um racionamento de energia mental, em toda história que faça sentido, sem avaliar devidamente se ela é verdadeira ou não, ficamos muito mais propensos a acolher exatamente as narrativas criadas, em detrimento da verdade.

Por isso, minha opção por recolher-me. O que não significa fechar-me para o mundo ou deixar de acompanhar as notícias. Mas fazer tudo isso com muito mais parcimônia e cuidado.