O discurso socialista apenas teve recepção nos corações e mentes de uma infinidade de gente porque já havia neles uma boa dose de ressentimento em relação às pessoas pertencentes às classes mais altas. É possível identificar isso desde o século XVIII, mas esse sentimento tornou-se mais evidente a partir do século XIX. 

O interessante é que apesar de haver uma certa inveja em relação à aristocracia, eram os chamados burgueses aqueles que mais causavam irritação. Isso porque o burguês, segundo a concepção marxista, não era necessariamente alguém que possuía uma condição de vida mais favorável por conta de hereditariedade ou tradição, mas por ter se beneficiado, de alguma maneira, das conquistas do mundo industrializado. O burguês, em essência, não era diferente do trabalhador ordinário, mas era comum que, por causa de suas condições materiais mais favoráveis, começasse a assumir ares afetados e emulasse modos aristocráticos. Isto era absolutamente irritante para o homem do povo, que via no burguês apenas um sortudo arrogante, de mau gosto e hipócrita. 

O ser humano é assim: pode conviver muito bem com o fato de que existam pessoas superiores a ele, desde que não tenham a mesma origem que a dele. O proletário não tem tanta inveja do aristocrata ou do nobre, que possui seu status por hereditariedade, do que do dono de fábrica que conquistou sua posição começando como trabalhador como ele. O sucesso de um igual é o espelho do próprio fracasso. E os movimentos socialistas sempre foram formados, em grande parte, por gente desse tipo: invejosos e fracassados.