É realmente impressionante como as pessoas se identificam com seus papéis sociais, se incomodando mais quando estes são criticados do que quando elas mesmas são atacadas. Basta, por exemplo, ouvirem algum comentário crítico em relação à Psicologia e os psicólogos se alvoroçam. Se falam algo do catolicismo, os católicos se incomodam. O mesmo acontece com libertários, protestantes, petistas, espíritas, maçons, corinthianos, frequentadores da associação de bairro ou qualquer outra pessoa pertencente a um grupo específico. As pessoas, na verdade, já não conseguem se ver como indivíduos e apenas se reconhecem como partes dos coletivos. Por isso, falar destes, aos quais pertencem, as agride. É como falar delas diretamente.

Como eu não estou nem aí para os papéis sociais que exerço, como advogado, professor, blogueiro, protestante ou seja lá mais o que for, não me incomodando, nem um pouco, quando esses tipos são criticados, me assusta essa defesa apaixonada que as pessoas fazem de suas profissões, de suas funções, de seus cargos, de seu grupo. Isso, para mim, representa, nada mais, que um grande vazio existencial. Só isso.

O papel social até pode refletir a identidade da pessoa, mas é incapaz de defini-la. Isso porque o indivíduo é e está muito além de qualquer função ou profissão. Qualquer atividade pode abarcar apenas uma parte da existência de alguém. Agir, portanto, como se ela fosse o fim da vida de um sujeito ou sua definição é de uma pobreza espiritual incrível.

Quando o papel social passa a ser o definidor do indivíduo, é óbvio que aquilo que o identifica passa a ser valorizado, elevado a uma importância acima de todo o resto. Não é à toa que as pessoas reverenciam tanto os títulos, os diplomas e as denominações dos cargos. Estas coisas passaram a ser um caminho mais rápido e mais simples para ser alguém, para se ter algum sentido na vida. O problema é que quando essas manifestações exteriores, ao invés de serem indicadores do que as pessoas fazem, passam a ser os definidores do que elas são, ninguém mais se preocupa em ser alguém de verdade. Basta o rótulo e tudo estará resolvido. Por que vocês acham que estamos tomados de tanta superficialidade?