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O velhinho e o cadeirante

Uma conhecida minha fez uma crítica ácida contra os serviços de entrega de comida, solicitados por aplicativos, como o Ifood, o UberEats e outros similares. Foi aquela lamentação chorosa, reclamando da ausência de jornada de trabalho e, especificamente, da suposta exploração dessas empresas em relação aos entregadores. Mais especificamente, narrou um velhinho entregando comida e um cadeirante fazendo isso também e como isso cortou o coração sensível dela. Assim, no seu texto, faz parecer que essas pessoas estão sendo exploradas, que são algo similar a escravos modernos.

Quando uma crítica é feita, espera-se que o crítico possua alguma solução em vista. O mínimo que ele deve apontar é qual seria a alternativa melhor ao problema indicado. No caso, se o velhinho e o cadeirante não estivessem fazendo esse serviço de entrega, estariam fazendo o quê? Qual a alternativa, dentro da realidade que vivemos, que deveria ser oferecida para eles?

Obviamente, a justiceira não expressa uma linha sobre isso. Sabe por quê? Porque todas as alternativas viáveis seriam piores para aqueles entregadores. Se ver um velhinho e um cadeirante entregando comida pode sensibilizar, vê-los sem trabalho, sofrendo sem dinheiro, sobrevivendo da caridade alheia é muito pior.

Como é típico desses defensores das causas sociais, eles são muito ligeiros para apontar as aparentes injustiças, mas são completamente incompetentes para oferecer qualquer solução. O que é até bom, porque quando se metem a solucionar os problemas do mundo, só causam desgraças.

Certamente, vão surgir pessoas dizendo que essas empresas poderiam reconhecer os direitos trabalhistas dessa gente, estabelecer regras rígidas de emprego e oferecer todo o tipo de benefícios para esses trabalhadores. O problema, que esse pessoal não vê, é que se essas empresas fossem obrigadas a seguir todo esse tipo de regulamentação, provavelmente, os primeiros a serem preteridos seriam exatamente as pessoas menos aptas, como o velhinho e o cadeirante.

A verdade é que é fácil ser crítico, difícil é dizer o melhor a se fazer. O problema é que geralmente os críticos não têm a mínima ideia sobre o que fazer.

Justiça incoerente

Ser justo é bom. No entanto, não existe justiça sem amor, como não existe justiça sem coerência. Amor e coerência são como que a balança que permite que a justiça seja aplicada com equilíbrio.

No entanto, as pessoas estão sofrendo uma demasiada pressão social por serem justas, sem que lhes seja exigido, da mesma maneira, que tenham amor e coerência.

É uma pressão por estar do “lado certo” da sociedade, o que isso significa participar de julgamentos coletivos, de justiçamentos sociais; de determinar que certas atitudes, certos grupos, certas crenças e certas convicções, apenas por não se encaixarem nas novas concepções desta nova geração, são absolutamente condenáveis.

Assim, estar do lado certo tornou-se o objetivo e a necessidade de muita gente, pois colocar-se fora dele é como viver um ostracismo em meio à multidão. Pior, é como ser marcado por uma letra escarlate.

Isso gera nas pessoas um anseio por parecerem boas, por parecerem corretas. Antes de qualquer coisa, elas querem ter certeza que estão sendo vistas como defensoras da causa certa. Querem ter a consciência limpa, levantando as bandeiras que disseram para elas que são as mais justas.

O problema é que a maior parte dessas bandeiras são hipócritas. São, na verdade, julgamentos prévios que, longe de fazer justiça, criam ainda mais preconceitos. O resultado não poderia ser outro: enquanto os justiceiros sociais defendem liberdades, agem como censuradores, enquanto falam em igualdade, promovem a segregação, enquanto gritam por tolerância, são os primeiros a não respeitar a opinião alheia. No fim das contas, se há algo que caracteriza todos esses movimentos é a incoerência.

No entanto, convenhamos, ninguém quer ser considerado incoerente. Mesmo esses justiceiros sociais possuem, como todo ser humano, uma necessidade intrínseca de serem vistos como pessoas que fazem aquilo que falam e agem de acordo com o que pregam.

Isso significa que se elas são incoerentes não é porque querem, mas porque não percebem. E se elas não percebem é porque lhes falta habilidade cognitiva para tanto. Resumindo: a incoerência das causas modernas é, antes de tudo, um efeito do baixíssimo nível intelectual geral.

Fica evidente que muito dos erros cometidos hoje em dia, sob os pretextos de moralidade, bondade e justiça, são efeitos de falhas de pensamento, da inabilidade de construir raciocínios corretamente e da incapacidade de perceber esses erros. Claro que tudo isso aliado a uma falta de sensibilidade para perceber as injustiças que cometem e até uma certa hipocrisia.

Porém, parece-me que menos do que perversidade, é a burrice que está por trás de quase todos esses movimentos de justiça social. Sem esquecer, é claro, que a ignorância, como se diz, costuma ser vizinha da maldade.

Tolerância dos justiceiros sociais

É muito bonito quando ouvimos esses discursos que pregam a tolerância, a diversidade e a inclusão. Soam sempre como uma demonstração de respeito e de cuidado ao ser humano que, em alguns casos, podem levar até às lágrimas aqueles que forem pegos de surpresa com tamanha demonstração de bondade.

O único problema é que basta esses mesmos apaixonados pela humanidade se depararem com o pensamento contrário, que não compartilha de uma visão de mundo semelhante a deles, para toda aquela máscara de tolerância cair por terra e surgir uma face virulenta que até assusta.

No entanto, há um motivo lógico para essa atitude descompensada que geralmente apresentam quando estão diante, principalmente, de alguém que demonstre possuir um pensamento mais conservador. E este motivo não é uma mera maldade que habita em seus corações, mas está muito bem justificado dentro deles.

O fato é que todos esses paladinos da diversidade e da tolerância acreditam em algo chamado progresso moral. Eles crêem, sinceramente, que os homens caminham, ininterruptamente, por uma evolução em sua moralidade, de maneira que o que eles promovem hoje, pelo simples fato de ser fruto desta sociedade contemporânea, é superior a tudo o que foi apregoado anteriormente.

Sendo assim, toda visão que não esteja de acordo com os ditames apregoados atualmente são considerados retrógrados e, consequentemente, não evoluídos. Dessa forma, quem não defende o que eles defendem simplesmente torna-se a encarnação do mal, a personificação do atraso, a oposição à virtude de uma sociedade avançada.

Não é à toa que acabam combatendo toda e qualquer manifestação conservadora como se fosse um mal real, que precisa ser extirpado, para o bem maior, o bem comum.

Ninguém pode negar, porém, que quando essas pessoas fazem seus discursos, senão conhecêssemos já toda a ideologia e contradição que reside por trás deles, tudo pareceria muito belo e atrativo. Inclusive, falar contra eles coloca imediatamente o opositor em uma aparente posição de ignorância e obscurantismo.

Tudo isso porque, como é comum aos discursos ideológicos, em tese, aquilo que dizem não é mentira. Se tomarmos apenas as palavras e expressões abstratamente, sem considerar a realidade que subjaz elas, tudo parece muito correto e bonito. Sequer há como contestar que é necessário que sejamos mais tolerantes e inclusivos.

Ocorre que, basta ver a forma como esses mesmos que insistem no discurso da diversidade tratam aqueles que pensam diferente deles para ter a convicção de que provavelmente há algo de errado com a mensagem que tentam transmitir.

O fato é que essas pessoas não são tolerantes, muito menos adeptos da diversidade. O que eles acreditam é que aquilo que defendem representa o que há de mais correto e superior e, portanto, quando lutam com todas suas forças para destruir aqueles que defendem ideias diferentes das suas, acreditam estar fazendo isso em defesa do bem e da moral.

Se uma visão conservadora é a antítese do que pensam, e o que pensam é confundido com o próprio bem, é correto e quase obrigatório destrui-la. Ou seja, combater o conservadorismo seria como uma nobre missão, um dever para aqueles que fazem parte dessa sociedade superior moralmente.

O único problema é que essa forma de pensar é idêntica a de todos os grandes genocidas do século XX, que não tiveram problema algum de dizimar populações inteiras simplesmente porque, segundo eles, representavam o atraso e era um obstáculo ao alcance de uma sociedade mais avançada e superior.

No fim das contas, essa gente que se acha boazinha, mesmo sem saber, é mais tirânica que qualquer pessoa normal.

Por isso, nunca se deixe intimidar por esse discurso que se apresenta como defensor dos excluídos e dos fracos, que se apresenta como moral e eticamente superior, mas que, no momento crucial, não aguenta qualquer manifestação contrária a ele.