Representantes da comunidade islâmica, no Brasil, expressaram sua preocupação com o que eles entendem ser um aumento da discriminação contra muçulmanos, no país, principalmente por causa do medo de atentados terroristas. Em princípio, eu poderia até considerar justa tal preocupação, considerando que em nações livres, não deve haver discriminações de nenhum tipo. No entanto, no mínimo, a manifestação dessa liderança se torna hipócrita quando ela simplesmente se cala em relação à maneira como representantes de outras religiões são tratados nos países de maioria muçulmana.
Por aqui, onde a comunidade árabe se estabeleceu e cresceu livremente e tem todas as suas liberdades garantidas e onde, somente agora, diante dos fatos que têm aterrorizado o mundo, começa a surgir alguma precaução contra possíveis atentados, principalmente por causa de um evento da magnitude das Olimpíadas, os islâmicos podem fazer o que bem entendem, principalmente expressar sua fé, sem que ninguém os incomode. Já nos países árabes, onde os muçulmanos são maioria e mesmo sem qualquer ameaça aos seus respectivos governos e povos, os cristãos não podem sequer levantar um templo para exercer sua religião, menos ainda se manifestar em favor de sua fé, quanto mais ir aos representantes máximos daquelas nações exigir que haja menos discriminação.
Naqueles países, nem se deve falar em discriminação, o que seria um eufemismo. O que ocorre por lá é perseguição mesmo, com, no mínimo, tolhimento de liberdades fundamentais, podendo chegar até condenações capitais.
Portanto, quando os líderes islâmicos no Brasil, ao sinal de uma mínima preocupação (justificada, aliás) com possíveis atentados terroristas, já se levantam, a ponto de marcarem uma audiência com um Ministro de Estado, para reclamar dessa situação, estão, além de tripudiando dos cristãos perseguidos e mortos aos milhões nos países maometanos, tentando mostrar a força que têm, como se mandando um recado para a nação onde estão estabelecidos.
Na verdade, enquanto eles não se manifestem sobre como os religiosos não-muçulmanos são tratados nos países do Oriente Médio e da África, fingindo que o que estão fazendo por aqui é apenas uma reivindicação justa, não deveriam ser ouvidos por ninguém.
Reclamar de discriminação, em um país que lhes dá tudo e lhes permite tudo, enquanto silencia sobre a dura perseguição que cristãos sofrem nos países árabes é um acinte. Dizer que os muçulmanos estão sofrendo preconceito, em um país que abriu plenamente as portas para eles, enquanto onde o governo é islâmico, os cristãos são vistos com desconfiança, quando não perseguidos, é uma provocação.
Esses líderes religiosos muçulmanos, na verdade, não são sérios. Sua reivindicação é nada menos que um insulto. O que protestam é ridículo comparado ao que omitem. Por isso, sua atitude é vergonhosa.
Os ateus e os praticantes de religiões afro sofrem muito mais preconceito no Brasil. Principalmente diante do crescimento evangélico. Evangélicos não são intolerantes com muçulmanos. Na época da guerra Universal X Globo, no fim dos anos 90, o pastor Silas Malafaia até os considerava simpáticos.
Porém umbandistas e praticantes do candomblé são obrigados a esconder sua religião em várias comunidades carentes. Em muitas, as ameaças vem de traficantes ” em nome de Jesus ” . Os pastores fazem ouvido de mercador.
Já os ateus, acostumados com a tolerância católica, estão prestes a acreditar que o inferno existe e estão nele.
Você está certo. É que aqui usei a expressão no mesmo sentido que as próprias autoridades usaram. Falo da discriminação irracional e sem motivo. No mais, sem preconceito não há vida em sociedade e tudo fica muito mais perigoso.
Você disse:
“Em princípio, eu poderia até considerar justa tal preocupação, considerando que em nações livres, não deve haver discriminações de nenhum tipo.”
Creio que essa sua afirmação, se não for errada, é mal explicada.
Discriminação é a base da escolha. Num país livre, as pessoas são livres para escolher (no sentido de que o estado não deve poder impedi-las de escolher na grande maioria dos assuntos) logo terão de ser livres para discriminar. Teria sido melhor dizer que o estado não deve discriminar… mas para falar a verdade, mesmo nesse caso não é verdade. O estado, como qualquer ente, tem de fazer escolhas. No máximo, se pode exigir a impessoalidade, moralidade e razoabilidade dessas escolhas (e mesmo o julgamento sobre isso será, em parte, subjetivo).
Mas alguém pode querer exigir que o estado (através de seus agentes) não faça escolhas baseadas na religião, raça, e outros quesitos que não sejam a capacidade e incapacidade e o bem ou mal realmente praticado pelo indivíduo. Assim, seria justo o estado prender alguém por cometer um crime, mas não por ser de tal raça ou tal religião. Ok, isto está certo. Mas nunca os agentes do estado discriminarão, de forma justa, com base na raça, sexo ou religião? Vejamos: Um homicídio acabou de acontecer, e há indícios de que o assassino está agora numa determinada rodovia. Diversas testemunhas, descrevem coerentemente o assassino. Suas descrições envolvem, naturalmente, características raciais, roupas, e sexo, e serão tão mais acuradas quanto melhor tenha sido sua observação. Uma testemunha com boa visão e aparentemente de mente muito sã, que tenha visto de perto o suspeito, conversado longamente com ele sob luz clara, será em princípio, melhor que uma testemunha que o tenha visto de longe, no escuro e rapidamente. Será estúpida a polícia que desprezar essas descrições na procura do assassino. Corretamente, a polícia discriminará.
Então, vejamos o caso concreto das olimpíadas. Há alguma entidade declaradamente budista incitando os adeptos do budismo em outros países a cometerem atentados terroristas (e obtendo sucesso nisso)? Há alguma religião no mundo,atual em que muitos clérigos supremacistas e muito bem financiados, incitam seus seguidores à violência? Há alguma religião no mundo atual em que organizações como o ISIS são bem vistas por uma parcela significativa dos adeptos, no mundo todo? Será sábio um agente de segurança que não foque, no combate ao terrorismo,no que é mais provável, em detrimento do menos provável? Com certeza, no mundo todo, espera-se ataque terroristas principalmente por aderentes da religião islâmica. Isso é um preconceito? Sim, e daí?